Muitos populares mostraram-se no sábado à noite contra a mina a céu aberto prevista para Morgade, durante uma sessão de esclarecimento, em Montalegre, onde os oradores convidados falaram sobre a importância do lítio como energia de futuro.
O auditório municipal encheu-se com cerca de 400 pessoas para uma sessão de esclarecimentos sobre o lítio, promovida pela Câmara de Montalegre, no distrito de Vila Real.
Na plateia, foram muitos os que vestiram uma camisola branca onde se podia ver um círculo vermelho com uma mão desenhada a branco e ler a mensagem “não à mina”.
Esta iniciativa realizou-se numa altura em que já foi assinado o contrato de exploração entre o Estado português e a empresa Lusorecursos e, na freguesia de Morgade, está em fase de legalização a Associação “Montalegre com Vida” que tem como objetivo lutar contra a mina a céu aberto prevista para aquela localidade.
Convidado para falar sobre o lítio, Fernando Noronha, investigador da Faculdade de Ciências do Porto, assumiu ser o “pai da criança” por ter descoberto os filões no Barroso em 1987/88.
O investigador fez questão de desmistificar e esclarecer que o lítio “não é radiativo”, que ajuda na descarbonização e elencou as muitas utilizações que tem desde as baterias, dos carros elétricos ou telemóveis, à medicina.
Fernando Noronha defendeu a exploração de recursos em Portugal e salientou que o país tem que decidir se quer ou não essa exploração.
O vice-presidente do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) e engenheiro de minas, Machado Leite, lembrou a importância do lítio na causa das alterações climáticas e referiu que a exploração “vai trazer impactos”.
Este responsável frisou que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que é legalmente obrigatório, terá que apresentar soluções e lembrou que, atualmente, “há tecnologias novas” que ajudam a minimizar os impactos decorrentes da exploração.
Durante a longa sessão, os populares levantaram precisamente muitas dívidas sobre os impactos da mina na “forma de vida” que atualmente conhecem, no ambiente, saúde, água e agricultura, que é a sua principal forma de subsistência.
Questionaram ainda sobre a “toxicidade do lítio”, os “problemas respiratórios consequentes" e garantiram que querem continuar a “respirar Montalegre”.
O porta-voz da Associação “Montalegre com Vida”, Armando Pinto, afirmou que a população é contra a “mina a céu aberto, seja ela de lítio, ouro ou diamante”, destacou as “preocupações com as nascentes de água” e salientou que, esta noite, “ninguém conseguiu explicar o que vai acontecer depois”.
Manuela Cunha, do Partido Ecologista “Os Verdes”, defendeu que as populações “têm o direito de serem ouvidas previamente” e sublinhou que, no caso de Morgade, “primeiro assinou-se o contrato e só depois se vai fazer o EIA”, colocando-se a “carroça à frente dos bois”.
Também Pedro Santos, representante da Quercus, acusou o Governo de “querer furar o país de Norte a Sul”, refutou o argumento da “sustentabilidade e descarbonização” e frisou que se “trata de um problema de mineração e dos impactos que a exploração tem na natureza e nas populações”.
No final, o presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves, esclareceu que o objetivo da sessão era “trazer a ciência, a universidade para explicar à população o que é o lítio, para que serve e porquê a necessidade de se atacar o desígnio do lítio”.
O autarca disse que se trata de um “problema complicado que mexe com o quotidiano das pessoas”, mas refutou “extremismos” de pessoas que não “dispensam o telemóvel, o automóvel ou a energia elétrica”.
"O município obviamente está com as suas populações”, frisou.