«Aqui batem dez milhões de corações», foi este o slogan que acompanhou a seleção nacional no Europeu de 2012. Esquecidos ficaram os outros 5 milhões de portugueses espalhados pelo mundo que, por mais orgulho que tenham do seu país, são vítimas de um tratamento desigual por parte das organizações e empresas.

Emigrar é estar temporariamente fora do país, o que, defende Carlos Morais, não deve ser visto como um fatalismo.Fotografia: O Emigrante Mundo Português
“São 15 milhões que querem, sabem e têm direito a tudo de igual modo”, alerta Carlos Morais, diretor do jornal “O Emigrante Mundo Português”, uma publicação que há 42 anos se dedica a servir as comunidades portuguesas no exterior.

Ter acesso a informações como a data limite para o pagamento de determinados impostos, ou, simplesmente, dados sobre as casas que vão a leilão em Portugal, são fundamentais, refere Carlos Morais, para quem está longe e trabalha para um dia regressar às origens.

Para aquele responsável, tanto as instituições governamentais como a comunicação social revelam pouca sensibilidade para as necessidades de quem está lá fora. “Passamos a vida a martirizar-nos a nós próprios, o emigrante não quer notícias negativas, não quer um país pobre”, diz Carlos Morais, acrescentando que quando um português se destaca no estrangeiro há uma exploração do seu sucesso, sem se equacionar o que é preciso fazer para que estes se sintam cada vez mais próximos do seu país.

Segundo o atual diretor d’ O Emigrante, Portugal desaproveita o poder de uma diáspora que está a crescer e que, no futuro, poderá constituir a maior fonte de aforro para o país, considerando que “cada emigrante recebe em média quatro vezes mais e poupa em média 500 a 1000 euros por mês”.

“Os portugueses são capazes, dêem-lhes é oportunidades”, pede Morais
Apesar de considerar que “Portugal continua a olhar a diáspora como uma parte menor da sociedade”, Carlos Morais acredita que os emigrantes se sentem “eternamente portugueses” e que “quando chegam lá fora e vencem, passado uns tempos, começam a ter orgulho das suas raízes”.

O mesmo acontece com os descendentes dos emigrantes portugueses. “Todos pensam erradamente que os filhos de emigrantes não querem saber de Portugal”, diz Carlos Morais, referindo o encontro anual promovido pela publicação e que todos os anos traz vários jovens a Portugal e lhes dá a conhecer, durante três dias, uma Lisboa diferente.

O poder da livre circulação

Emigrar é estar temporariamente fora do país, o que, defende Carlos Morais, não deve ser visto como uma fatalidade, o fado de quem nada conseguiu conquistar no país.

“Ser português é hoje, e cada vez mais, ter a capacidade de livre circulação que muitos povos do mundo não têm. No entanto, não somos capazes de aproveitar essa dinâmica”, diz Carlos Morais, salientando que isso se deve ao facto de ainda se olhar para a emigração de uma forma negativa.

O fator económico continua a ser determinante na decisão de sair do país, mas hoje, “a nova diáspora é feita de gente que já possui mais elevados graus de instrução, já têm bons hábitos de consumo e uma maior taxa de sucesso”, conta o jornalista.

A dificuldade em lidar com a saudade, em dominar uma língua estrangeira ou em conseguir integrar-se na sociedade e no sistema jurídico de um país diferente, continuam a ser as principais dificuldades de quem emigra. No entanto, refere Carlos Morais, existe um novo desafio que é manter, no mínimo, um nível de vida semelhante àquele que já se tinha em Portugal.

Os portugueses que escolheram o Brasil como nova morada temporária são aqueles que Carlos Morais distingue pela sua capacidade de entrar num mercado desconhecido e criar impérios.

“Os portugueses são capazes, dêem-lhes é oportunidades”, pede o diretor d’O Emigrante Mundo Português.



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