O ex-cônsul de Portugal em Liège e em Antuérpia José Rebelo Coelho considerou hoje que o país «nunca teve uma política de emigração», argumentando que os sucessivos governos se concentraram «apenas em questões administrativas» e consulares.

\"Era preciso uma política de emigração efetiva, que não se concentrasse apenas nas questões administrativas. Uma política que abrangesse aspetos económicos, sociais e culturais\", disse José Rebelo Coelho à agência Lusa, à margem da apresentação do seu livro \"A Pátria e os Outros Portugueses\", no consulado-geral em Paris.

Nesse sentido, argumentou, \"Portugal nunca teve uma política de emigração\". O país, defendeu, \"não aproveitou as remessas\" dos emigrantes, \"não aproveitou os quadros técnicos portugueses formados no estrangeiro\", e não usa quem está fora para \"ajudar a internacionalizar a economia portuguesa\".

\"Se pensarmos que cada português -- e há entre 4 e 5 milhões fora de Portugal -- consome produtos portugueses, [concluímos que] a internacionalização da economia seria muito muito maior se esses portugueses, e também as empresas portuguesas, fossem tomadas em linha de conta como uma vertente da promoção da economia nacional. E isso nunca aconteceu\", afirmou.

Também na área da cultura, considera, era preciso integrar numa política mais abrangente todos os atores portugueses no estrangeiro para promover Portugal.

O autor identifica nos problemas do Ensino Português no Estrangeiro as mesmas causas: \"Portugal nunca definiu exatamente o que queria com o ensino do português para os portugueses que vivem cá fora, se língua materna, se língua estrangeira\", afirmou.

Na sua perspetiva, \"a tendência para considerar o ensino do português como língua estrangeira vai ser o fim [da língua entre as] comunidades\".

No livro que hoje apresenta, José Rebelo Coelho começa por escrever que há uma grande \"indiferença\" por parte dos portugueses não emigrantes e por parte do Estado em relação aos emigrantes.

\"Grande parte dessa indiferença\", defende, \"é provocada por um desconhecimento desses milhões de portugueses que vivem cá fora\".



PARTILHAR:

«Provocada por desconhecimento»

Beneditino do Castro de Avelãs