O português Carlos dos Santos, acusado de angariar imigrantes ilegais para trabalhar em matadouros em Angers, no sudoeste de França, será julgado em breve, decidiu hoje o tribunal, depois de interrogar o suspeito.
Segundo soube a Agência Lusa junto de fonte ligada ao processo, o tribunal estava ainda a analisar a hipótese de deixar Santos em liberdade para preparar a sua defesa.
Representante do Grupo Internacional de Desossagem (GID) e responsável pela contratação de trabalhadores, o português terá fornecido durante anos centenas de empregados portugueses e norte- africanos a vários matadouros em França.
Esta situação foi divulgada após a detenção em Candé, na segunda-feira, de catorze pessoas, a maioria dos quais malianos, por se encontrarem em situação irregular, alegadamente sob a responsabilidade do cidadão luso.
Carlos dos Santos enfrenta ainda acusações de seis portugueses e um marroquino de desrespeito pelo contrato de trabalho, não pagamento de horas extraordinárias e de prémios e outros abusos.
O seu processo será aberto na terça-feira em tribunal de trabalho, disse à Agência Lusa o advogado dos queixosos, Alain Guyon.
Segundo relata a agência France-Presse, estes trabalhadores eram obrigados a cumprir horários que podiam ir das 5:00 às 21:00 horas, sob ameaças e com um vencimento abaixo do que tinha sido acordado.
Alegam ainda que lhes foram prometidos salários de 1.500 euros para trabalhar na embalagem de produtos, mas quando chegaram a França foram confrontados com apenas 900 euros no final do mês, isto apesar de a folha de pagamento referir 1.140 euros.
Finalmente, afirmam que eram obrigados a reembolsar à GID 300 euros pela viagem e outros 300 euros pelas autorizações de residência e de trabalho e a pagar mensalmente entre 200 e 250 euros pela alimentação e alojamento.
Alain Guyon admite que pelo menos três centenas de pessoas, entre os quais muitos portugueses, tenham trabalhado nestas condições, mas que entretanto deixaram a empresa sem denunciar a sua situação.
O causídico adiantou ainda que os sete portugueses que representa pretendem apresentar queixa por danos morais e materiais na sequência do rompimento do contrato de trabalho.