Na véspera estivera com um amigo, no Açores Café, a quem confidenciou que andavam há três anos a persegui-lo no trabalho.
Carlos Pacheco era solteiro, residia com os pais, Alda e António Pacheco, numa moradia com jardim em 151 Alabama Ave., área de Washington Park, zona onde residem muitas famílias portuguesas.
É família numerosa, seis irmãos e irmãs, oriunda da Ponta Garça, ilha de S. Miguel, em estado de choque com a tragédia e que procura agora explicação para o tresloucado acto.
Pacheco trabalhava para o Providence Journal há mais de 20 anos, desde que graduara da La Salle Academy. Tinha sido promovido recentemente a responsável pelas inserções e trabalhava no parque tipográfico, 210 Kinsley Ave., a curta distância da redacção do jornal, 75 Fountain St.
Segundo o Providence Journal, sexta-feira Pacheco esteve com Nelson Cabral, amigo de longa data, no Açores Café, a curta distância da sua residência.
“Andavam a torturá-lo no trabalho, mas não me disse porquê”, disse Cabral.
Para Cabral, o amigo seria vítima de perseguições e na semana anterior tinha sido perseguido de automóvel na Route 95.
“Disse-me que as pessoas que o andavam a incomodar o perseguiram de automóvel, forçando-o a sair da estrada e quase causando um acidente”, prosseguiu Cabral.
A polícia estadual tomou conta dessa ocorrência, de acordo com o capitão Michael Iarossi, mas o caso é considerado acidental.
Segundo foi divulgado, o detective James Dougherty seguia de automóvel na Route 95 e avistou o Nissan 2002 que Pacheco comprara há semanas seguindo “a alta velocidade e a sair da sua faixa de rodagem”, de acordo com Iarossi.
Dougherty parou Pacheco, “para ter a certeza de que tudo estava OK”, mas não o autuou.
Segundo terá contado a Cabral na sexta-feira, Pacheco disse a Dougherty que vinha sendo perseguido, mas o polícia não o terá levado a sério e respondeu que não vira os outros. Contudo, precisou Pacheco ao amigo, Dougherty “era a única pessoa que sabia a verdade”.
Nelson Cabral admitiu na entrevista que a conversa do amigo não fazia muito sentido e perguntou-lhe se era da cerveja, o que o outro negou. Entretanto, foram jogar Keno, mudaram de assunto, atravessaram a rua para comprar lotaria na Sollitto Liquors e mais tarde entraram no Porto Soccer Club, pequena colectividade na esquina das avenidas Ohio e Allens.
Pacheco pagou uma rodada de bebidas para os presentes, uma dúzia de pessoas, sem entrar em pormenores sobre a inesperada generosidade. Cavaquearam algum tempo e, não tinha decorrido uma hora, Pacheco despediu-se e foi-se embora.

Manhã trágica

Decorridas 12 horas, cerca das 9:20 da manhã de sábado, Carlos Pacheco entrou na tipografia do Providence Journal, onde se encontravam cerca de 60 pessoas, que procediam na altura à impressão e inserção dos magazines, suplementos publicitários e outras secções preparadas com antecedência para a edição de domingo, que seria impressa nessa noite.
Robert Benetti, 38 anos, casado, com três filhos, duas meninas e um menino e residente em Pawtucket, era o supervisor da secção, a sua mulher, Lora, e o seu irmão, Joseph, também trabalham no edifício.
Ninguém estranhou a presença de Pacheco, embora não estivesse de serviço.
Sem dizer palavra, Pacheco avançou na direcção de Benetti, apontou- uma pistola e disparou, causando-lhe a morte imediata. Os dois trabalhavam juntos há 20 anos.
Estabeleceu-se o pânico, mas uma empregada teve presença de espírito para telefonar para o 911 eram 9:26, avisando que alguém tinha sido ferido no Providence Journal na Kinsley e identificou o autor do disparo como Carlos Pacheco.
Nessa altura, o agressor já deixara o edifício pelas traseiras e, no parque de estacionamento, cruzou-se com Charles Johnson, 30 anos, casado, uma filha.

Acabara a distribuição do jornal e preparava-se para regressar a casa, mas descansava fumando um cigarro no seu camião.
Quando se dirigia para o carro, Pacheco disparou sobre Johnson, atingindo-o na cara, mas sem gravidade, pois o ferido teve alta segunda-feira.
Eram 9:28, o próprio Pacheco ligou para o 911 pelo seu telemóvel, informando ter morto duas pessoas. A polícia divulgou a mensagem:
“Sim, eu sou do estado de Rhode Island, Providence para ser exacto. Acabei de disparar sobre duas pessoas, espero tê-las morto. Eu gostava de falar com um detective da polícia estadual – um certo detective – e sei quem é, porque vou fazer-lhe certas perguntas para as quais só ele tem as respostas. Se ele não está, vou ficar infeliz.”
O telefonista disse que Dougherty voltaria em cinco minutos e Pacheco ainda disse “mais algumas pessoas podem ficar feridas”.
Desligou e voltou a telefonar eram 9:40, começando por identificar-se, voltou a perguntar por Dougherty, mas inesperadamente desligou.
Eram 9:48, o centro do 911, em North Providence, voltou a receber um telefonema, desta vez da Kenney Manufacturing Co., 1000 Jefferson Blvd., em Warwick, dando conta de que estava um carro a arder no parque de estacionamento da fábrica.
Era um Nissan e dentro estava Carlos Pacheco; resolvera imolar-se pelo fogo, usando um combustível para incendiar o veículo. O corpo ficou completamente carbonizado.
Às 11:30, familiares de Matthew Fandetti, 29 anos, colega de Pacheco no Providence Journal, alertaram a polícia depois de verem as notícias na televisão.
A polícia dirigiu-se a casa de Fandetti, 16 Adrian St., Warwick e encontrou-o morto a tiro.
Fandetti deixa uma irmã gémea, Lynn de Sousa, residente nas imediações, mas não se sabe se foi ela quem alertou a polícia, nem o conhecimento que teria de eventuais problemas entre o irmão e Pacheco.

As investigações prosseguem Goreti Arruda, 37 anos, irmã de Pacheco, disse ao Providence Journal que ele vinha sendo pressionado para se filiar no sindicato e que já há cerca de um ano tinha falado nisso a um sobrinho, embora sem entrar em pormenores.
Goreti adiantou que uma semana, pela primeira vez, Carlos tinha falado no caso à mãe.
Frank A. Manfredi, presidente da Local 64 dos Teamsters, negou que os colegas tenham pressionado Pacheco e referiu que nenhum dos 150 empregados do parque tipográfico era obrigado a sindicalizar-se.
O pessoal da secção de produção e distribuição do Providence Journal é representado por três sindicatos, um dos quais, os Teamsters, desde há cinco anos.
Embora pertencesse ao sindicato, Pacheco tinha que pagar 92 por cento das contribuições a que estavam obrigados os sindicalizados.
Os Teamsters não confirmaram se Benetti, Fandetti e Johnson pertenciam ao sindicato.
Adensando o mistério em torno das razões que terão contribuido para o desesperado acto, Robert Varin, supervisor de Pacheco revelou que este lhe telefonara terça-feira a marcar um encontro sábado de manhã, para conversarem e tomarem uma bebida.
Sábado, eram 9:25 da manhã, o telefone tocou, mas Varin dormia e não atendeu. Não havia mensagem, mas ao consultar o ID das chamadas viu que era o número do telemóvel de Pacheco.
“Ele disse que me queria fazer algumas perguntas e queria respostas honestas”, confirmou Varin.
“Perguntei-lhe o que estava errado e ele respondeu que queria tomar uma bebida comigo no sábado.”
“Penso que tive sorte em ter adormecido”, disse Varin, “Não se sabe o que poderia ter acontecido se me tivesse encontrado com ele. Podia não ter acontecido nada, mas nunca se sabe.”
O caso ainda está a ser investigado, mas a conversa de Pacheco com o detective James Dougherty e as três tentativas que fez, antes de suicidar, para falar com ele, poderão contribuir para apurar o que se passou.



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