Portugueses e espanhóis residentes junto à fronteira do Planalto Mirandês com Espanha rejeitam a ideia de um hipotético encerramento da fronteira, considerando mesmo tratar-se de um "suicídio económico" para esta região do interior peninsular.
O sentimento é partilhado pelos habitantes da raia entre o interior do Nordeste Transmontano e a província espanhola de Castela e Leão, para quem “não faz sentido” voltar a equacionar fechar fronteiras devido à covid-19, pois estão em causa “zonas debilitadas economicamente", sendo preciso "um maior controlo sanitário nos dois países" e ver o tema esclarecido na Cimeira Ibérica marcada para sábado, na Guarda.
"Se encerrassem de novo a fronteira seria um suicídio para a economia destas terras em torno da raia. Em março, quando fecharam, houve muitos prejuízos. Não faz sentido colocar de novo essa ideia em cima da mesa", disse à Lusa um grupo de pessoas reunido na esplanada de um pequeno café em Paradela da Raia, a aldeia mais oriental de Portugal, no concelho de Miranda do Douro, distrito de Bragança.
Para Amândio Sebastião, as pessoas é que têm de ter uma atitude responsável perante a pandemia provocada pela covid-19 e respeitar as regras impostas pelas autoridades de Portugal Espanha.
"A Paradela vêm muitos espanhóis. Estamos a cerca de três quilómetros da fronteira e, se eles vêm cá, nós também vamos lá. Todos temos de ter os respetivos cuidados sanitários na circulação entre os lados da raia. Só assim se contribui para o bem de dois povos que convivem diariamente. Não me parece que fechem de novo a fronteira", observou.
Já Maria Rodrigues atira que, para além do aspeto comercial, há boas relações de vizinhança com os espanhóis devido à proximidade com a fronteira.
"Se voltassem as fechar as fronteiras, seria um inverno de solidão, num ano que já está desastroso ", vincou.
Adriano Monteiro, que reside em Matosinhos (na Área Metropolitana do Porto) mas tem uma segunda habitação em Paradela, defende um maior controlo sanitário das fronteiras, com o fornecimento gratuito de máscaras e um eventual rastreio.
"Defendo um controlo nas fronteiras e cada um de nós ter a noção da realidade que estamos e viver. Os governos dos dois países deveriam fornecer máscaras à população", observou.
Miguel Pascual, um empresário de Moralina de Sayago que percorre a estrada raiana que liga Paradela à localidade de espanhola de Moveros, é contra um novo encerramento das fronteiras, por existir muito negócio entre as duas zonas afastadas dos grandes centros urbanos da Península Ibérica.
"Todos precisamos de todos para viver. O importante é o civismo e penso que Portugal está num melhor caminho do que Espanha no controlo da pandemia, principalmente nas grandes cidades", indicou o empresário castelhano.
Já junto a linha divisória entre Espanha e Portugal, perto da Senhora da Luz em Constantim, Miranda do Douro, um grupo de 'motards' parou para descansar depois de um passeio todo-o-terreno desde o Huelva (Espanha) até ao interior fronteiriço, mas sempre por território português.
Um dos motociclistas, Pedro Palomo, observou que “poderá ser lógico o encerramento de fronteiras, caso um dos países tenha uma melhor posição em relação ao controlo do vírus”.
“Neste caso, Portugal está a fazer melhor trabalho que Espanha, desde a primeira hora, no toca ao controlo da epidemia", sustentou.
O 'motard' disse que, por onde passou, viu os portugueses a usar máscara em bares e restaurantes, mantendo o distanciamento.
Em Espanha, descreveu, "praticamente existe essa consciência".
Quem não quer ouvir falar no hipotético encerramento de fronteira é Juventina Fernandes, que trabalha num minimercado em Moveros e reside na aldeia mirandesa de Cicouro.
A viagem demora menos de dez minutos ou uma hora e meia, como quando as fronteiras estiveram encerradas, entre março e maio.
Francisco Pinto (texto), da agência Lusa