A Federação Renovação do Douro reclamou hoje um “preço justo” para a uva que é comprada aos viticultores e alertou para situações em que grandes empresas estão a excluir produtores a quem costumavam comprar o fruto.
Um pouco por toda a Região Demarcada do Douro já se cortam as uvas, numa vindima antecipada em algumas localidades e que é também de “grandes preocupações” para Rui Paredes, presidente da Federação Renovação do Douro – Casa do Douro.
“Hoje em dia estamos todos com o foco na sustentabilidade ambiental, mas mais importante é a sustentabilidade social e económica e isso não está a acontecer”, afirmou o responsável.
Rui Paredes disse que o trabalho dos agricultores não “está a ser devidamente remunerado” e defendeu que é preciso “ter um preço justo para a uva” a pagar aos pequenos e médios viticultores.
E exemplificou com o preço da pipa de vinho do Porto (550 litros) que é paga “na ordem dos mil euros”, o mesmo valor de “há 10 ou 15 anos”.
O responsável lembrou que está a ser desenvolvido um estudo para apurar qual é o “preço justo” para “remunerar condignamente as uvas” nesta região de montanha muito heterogénea, à semelhança do que já acontece em Espanha.
“Era importante criarmos alguma regra para a região”, defendeu.
Este é um problema que ganha dimensão num ano em que se verifica uma diminuição de 12 mil pipas no benefício, ou seja, na quantidade de mosto que cada produtor pode transformar em vinho do Porto e que é uma importante fonte de rendimento, em que foi necessário efetuar vários tratamentos na vinha para conseguir trazer a uva à vindima, em que os preços dos produtos estão muito elevados, bem como dos combustíveis, e em que há cada vez menos mão de obra e, consequentemente, é também cada vez mais cara.
Nesta região, os viticultores também vendem a “uva sem preço”, ou seja, entregam o fruto ao operador e só depois é que sabem quanto vão receber.
“Às vezes são preços miseráveis, mas já não podem fazer nada”, referiu o responsável.
Para colmatar esta questão, a Federação propõe o “contrato de vindima”, que seria celebrado entre quem vende e quem compra, com conhecimento ao Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP).
Nesse contrato, explicou, ficaria definido o preço a que as uvas seriam compradas.
As previsões apontam para um aumento de produção no Douro na ordem dos 10%, segundo dados da Associação para o Desenvolvimento da Viticultora Duriense (ADVID), e, entre janeiro e maio, registou-se uma quebra nas vendas de vinho do Porto de 8,8% em volume de negócios.
Rui Paredes afirmou estar preocupado com o mercado de vinho do Porto, mas apontou que este facto poderá estar também a “servir de pretexto” para situações de empresas que estão a excluir viticultores a quem costumavam comprar as uvas.
Reforçou que há informações de “vários operadores que não compraram mesmo”, que “rejeitaram" produtores e, em consequência, alertou para agricultores que “estão com o coração na mão porque, neste momento, não sabem onde vão vender as uvas” que são o resultado de um ano inteiro de trabalho na vinha.
Mas, ao mesmo tempo, estão a acontecer na região “negócios de milhões de euros”, o que, na sua opinião, “quer dizer que a atividade é lucrativa”.
Rui Paredes considerou que, no Douro, o setor “nem é justo, nem é solidário”, e lembrou que há, atualmente, 18 mil viticultores na região. “Somos cada vez menos”, apontou.
Por fim, reclamou mais fiscalização para prevenir “situações menos claras” e dissuadir a “entrada de uvas de fora” da região demarcada.