A presidente da Cáritas Portuguesa mostrou-se hoje preocupada com a “crise arrastada” que cria novos casos de pobreza, agrava situações de pobreza e dificulta a capacidade de resposta das instituições devido ao aumento dos custos.
“É muito preocupante. Não é só uma crise pontual, é uma crise arrastada que ainda não se percebe quando vai terminar”, afirmou Rita Valadas, no decorrer de uma visita à Cáritas Diocesana de Vila Real.
E é preocupante, apontou, a vários níveis, desde o aumento de casos de pobreza, o agravamento de situações que já estão abaixo do limiar de pobreza e nas maiores dificuldades das próprias instituições para dar resposta devido, também, ao aumento generalizado dos preços, exemplificando com o aumento do preço das refeições.
Questionada sobre se estas dificuldades podem inviabilizar a capacidade de resposta, Rita Valadas disse esperar "que não".
“Sempre havemos de conseguir tirar alguma solução da cartola, temos conseguido. A nossa atividade depende em grande parte de donativos e, até agora, as crises que temos vivido não têm sido crises de solidariedade”, salientou.
A responsável disse preocupar-se com as questões para “além das estatísticas”.
“Eu sei que é muito importante haver números, nós temos alguma pressão nos números, mas pior do que isso é a severidade das situações de pobreza”, afirmou.
Segundo apontou, o país já terá passado para “os 20% de pessoas abaixo do nível de risco de pobreza", mas, referiu, “na verdade há 40 anos que se vagueia entre percentagens”, nomeadamente entre os 16% e os 20%.
Depois dos sinais de retoma efetiva em 2019, seguiu-se a pandemia de covid-19 em 2020 e, agora, em 2022, uma guerra na Europa.
Com a pandemia algumas famílias perderam os rendimentos e, agora, verifica-se um aumento do custo de vida.
“Esse aumento tem sido brutal e naturalmente as famílias não aguentam (…) Há famílias que não aguentam e vão engrossar este número de situações de pobreza”, apontou.
Rita Valadas referiu que “algumas pessoas começam a comprometer a sua qualidade alimentar porque já não têm capacidade”.
Relativamente às instituições, nomeadamente as que fornecem refeições, a responsável disse que estas têm visto os “seus custos aumentados brutalmente”.
“Temos situações muito difíceis de instabilidade financeira de gestão das instituições por via do aumento do custo de vida na atividade”, referiu.
Em Vila Real, Rita Valadas visitou a Quinta da Tapada, em Bisalhães, onde estão localizados os serviços técnicos da Cáritas e outras valências como a comunidade terapêutica e equipa de intervenção direta, os apartamentos de reinserção sócia, o albergue social e o armazém, o projeto + Social_E7G_Bairro da Telheira e o serviço de atendimento social.
“É para conhecer os problemas e os tesouros. As Cáritas são todas diferentes entre si e desenvolvem a sua ação de acordo com as necessidades de cada território”, frisou.
O presidente da Cáritas de Vila Real, Henrique Oliveira, disse que durante o período da pandemia houve, a nível deste distrito, um acréscimo dos pedidos de ajuda, que praticamente duplicaram em relação a 2019.
“As coisas, entretanto, ficaram mais calmas, estão a estabilizar. Por exemplo no programa de apoio alimentar já houve redução dos alimentos que são distribuídos às pessoas”, referiu.
No entanto, acrescentou, têm surgido “alguns pedidos de ajuda para pagamento de faturas de água e de renda”.
Na comunidade terapêutica é prestado apoio a 28 pessoas com dependência de álcool ou substâncias ilícitas e, nos apartamentos de reinserção, estão oito pessoas.