Várias centenas de pessoas dos concelhos de Alfândega da Fé e Vila Flor estão a beber água há vários meses com doses quase três vezes superiores ao permitido de arsénio, uma substância que pode ser venenosa.
Apesar de as autarquias destes concelhos do Nordeste Transmontano terem análises datadas de Maio que dão conta dos valores excessivos daquele elemento na água, só hoje tomaram medidas para substituir o abastecimento às populações de quatro aldeias afectadas, depois de o caso ter sido denunciado pela comunicação social regional.
Segundo disse à Agência Lusa o vereador da Câmara de Alfândega da Fé, Arsénio Pereira, as análises à água das aldeias de Vilares da Vilariça e Colmeais revelaram valores de arsénio na ordem das 27 unidades, quase três vezes superior ao permitido por lei.
A partir de 10 valores, a água com a presença deste elemento é considerada imprópria para consumo.
Na mesma situação estão as populações de Valbom e Macedinha, no concelho vizinho de Vila Flor.
De acordo com Arsénio Pereira, a situação ocorre por \"mudança de parâmetros imposta pela União Europeia\".
\"Até há um ano, o valor máximo admissível era de 50 unidades por litro de água. Uma norma comunitária mudou o valor para 10 unidades\", explicou.
Nos concelhos contaminados não são conhecidos casos oficiais de problemas de saúde pública relacionados com a presença do arsénio na água, porém este elemento pode ter implicações se acumulado ao longo da vida.
Luís Filipe Fernandes, docente do Instituto Politécnico de Bragança da área da geologia, explicou à Lusa que o arsénio existe na Natureza em forma de cristal e está associado a zonas de minério, mas \"em doses excessivas é um veneno\".
Este elemento é utilizado na produção industrial de herbicidas, fungicidas, raticidas e insecticidas.
Segundo aquele docente, \"ingerido sucessivamente, o arsénio pode ter implicações na saúde humana, manifestando-se em problemas digestivos, ao nível do sistema neurológico e em lesões sanguíneas\".
O vereador da autarquia de Alfândega da Fé contou à Lusa que as populações residentes na zona da água contaminada apresentam todas uma característica física comum, \"dentes acastanhados\", porém não é possível relacionar o facto com o problema do arsénio na água.
O presidente da Câmara de Vila Flor, Artur Pimentel, disse estar já a resolver o problema com a colocação de um depósito de 10 mil litros para abastecimento às populações.
Em Alfândega da Fé ainda não existe uma solução imediata.
Segundo o vereador da autarquia, \"estão a ser feitas diligências para na próxima semana ser instalado um sistema provisório de tratamento da água\".
A autarquia está também a diligenciar para a instalação de um depósito com capacidade para entre 40 a 50 mil litros.
O problema de Alfândega da Fé só será definitivamente resolvido com a construção de um nova barragem, a de Sambade, que vai abastecer várias populações do concelho com água devidamente tratada.
Vila Flor espera resolver definitivamente o problema das duas aldeias do concelho a partir da barragem que abastece grande parte do município, a do Peneireiro.
Os autarcas assinalam que o problema do arsénio na água \"é já antigo\" naquelas zonas do Distrito de Bragança.
