Os produtores de fumeiro do Planalto Mirandês garantem que as plataformas digitais destinadas à comercialização de produtos regionais em tempo de pandemia "não são eficazes", preferindo as feiras para escoar a produção, fazer negócios e contactos.

Devido à pandemia de covid-19, todas as feiras dedicadas ao fumeiro e produtos regionais, que se realizam por esta altura do ano em Trás-os-Montes foram canceladas e os produtores de fumeiros e outros produtos endógenos garantem estar a passar um "mau bocado" com perdas que ultrapassam os 50% na comercialização face a anos anteriores.

Os produtores ouvidos pela Lusa dizem que as soluções encontradas por algumas autarquias, como a venda através de plataformas digitais, "não são funcionais", sendo os clientes habituais o que salva o negócio.

Dário Mendes, produtor de fumeiro de porco bísaro, instalado em Mogadouro, disse que ainda não conseguiu vender nada através das plataformas "on-line" e que a principal fonte de rendimento da empresa Bísaro do Planalto, com quatros anos de existência, são os "clientes habituais", que procuram o fumeiro por outras vias.

"Há cerca de um ano que não participamos em feiras, e estes certames são importantes para mostrar os nossos produtos e fazer contactos para o resto do ano. Registámos uma enorme quebra nas vendas que vai para além dos 50% e temos de andar a patinar para aguentar o negócio", vincou.

Sem vendas ‘on-line', os produtos originários nestas empresas estão a ser vendidos em algumas superfícies comerciais de Mogadouro e através de contactos já existentes no Grande Porto e Lisboa, ou outras cidades do país.

"As encomendas para o exterior chegam, na sua maioria, através de contacto telefónico, mas em pequena percentagem, já que são clientes que fidelizamos ao longo destes quatro anos de existência do nosso projeto ", indicou o empresário.

Paula Domingues, umas das sócias da Cozinha Tradicional Cima da Vila em Miranda do Douro, refere que a unidade está a produzir mas não em tanta quantidade como em anos anteriores.

"A produção é feita ao ritmo das encomendas e com quebras assinaláveis que ultrapassam os 50% das vendas em condições normais", frisou.

Segundo a empresária, houve boa intenção em criar as plataformas de vendas pela internet, mas as expectativas ficam um bocado aquém do inicialmente previsto e anunciado.

"Estas plataformas ficam aquém das expectativas. O porta a porta é a principal fonte de encomendas e receitas, Tínhamos os clientes de turismo rural que aproveitavam para comprar os produtos e, com o confinamento, isso não se verifica", contou à Lusa.

Maria Pera, que tem uma cozinha tradicional em Duas Igrejas, também no concelho de Miranda do Douro concorda que as feiras são o melhor local para se fazer negócios e reservas para o futuro.

"Como as feiras foram canceladas, a ideia das vendas pela internet é boa, só que ainda não há resultados. Não tenho feito negócios através da internet e há uma diminuição das vendas nas vendas de fumeiro. Se as pessoas não podem circular, não veem o produto. Se não veem, não compram", explicou produtora.

Para a Associação de Produtores Gastronómicos das Terras Miranda - Sabores de Miranda, que junta 30 associados, "torna-se complicado gerir a situação que se está a atravessar".

"Alguns produtores ainda não estão adaptados às plataformas digitais. Nas feiras, os olhos veem e as pessoas compram. Por via digital é mais complicado", indica a responsável pela associação, Ana Esteves.

A dirigente disse que há um público fiel aos enchidos do Planalto Mirandês, mas os produtores notam a ausência de compradores no território.

O período mais importante para as vendas dos produtos produzidos nestas cozinhas regionais que se dedicam à produção de fumeiro vai do Natal ao Carnaval, apesar de o período de Páscoa ter também impactos nas vendas.

Certames como a Feira do Fumeiro de Vinhais, a Feiras dos Sabores Mirandeses, em Miranda do Douro, a Feira da Caça em Macedo de Cavaleiros, a Feira do Butelo e das Casulas, em Bragança, os mercados da Amendoeiras em Flor são alguns dos exemplos dos certames cancelados no território nordestino.

Francisco Pinto (texto), da Agência Lusa 



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