A Associação dos Viticultores Profissionais do Douro (Prodouro) revelou hoje preocupações com a sustentabilidade dos produtores, numa carta aberta ao ministro da Agricultura, defendendo como prioridade a gestão da oferta e a valorização da produção.
A carta aberta surge ainda a propósito da entrevista do ministro da Agricultura ao jornal Público, em abril, e já depois de um pedido de audiência conjunto feito a José Manuel Fernandes por parte de quatro organizações representativas da produção no Douro: a Federação Renovação do Douro, a Associação da Lavoura Duriense, a União das Adegas da Região Demarcada do Douro e a Prodouro.
“Aquilo que nos parece que é mais premente, que é mais prioritário, é gerir a oferta e valorizar a nossa produção”, afirmou hoje à agência Lusa Rui Soares, presidente da Prodouro, após a divulgação do documento dirigido à nova tutela.
Na entrevista, o ministro da Agricultura revelou disponibilidade para ouvir os agricultores, alertou para o ‘stock’ de vinho por escoar e defendeu que “terá de haver um travão” nos apoios para novas plantações de vinha.
O novo governante questionou que se estejam a dar recursos financeiros para plantar vinha para depois se arrancar ou para o vinho ser destilado, adiantando que, até agora, já se gastou em destilação 60 milhões de euros.
“Aproveitamos a deixa e se é assim ouça-nos. Estamos cá, estamos disponíveis, temos ideias e temos algumas propostas”, realçou Rui Soares, que colocou no centro das preocupações a “questão da gestão da oferta”.
Recorde-se que a vindima de 2023 ficou marcada por alguma agitação social no Douro porque, invocando dificuldades de vendas de vinho, grandes empresas não compraram ou compraram uvas em menos quantidade aos produtores.
“É preciso acautelar os problemas atuais e a sustentabilidade de quem já está a produzir, porque estar a traçar cenários e a colocar isto na perspetiva do aumento da competitividade, da produtividade das explorações, sem acautelar o presente, não vale a pena”, referiu o dirigente.
Na sua opinião, é preciso “trabalhar afincadamente” no sentido de que quem está a produzir tem que ser devidamente remunerado e ter sustentabilidade no seu negócio, seja ele a venda de uva ou seja ele a venda de vinho.
“Ou nós resolvemos a questão da sustentabilidade do nosso negócio hoje ou então não sei como será o futuro”, desabafou.
Rui Soares classificou o VITIS (Regime de Apoio a Reconversão e Reestruturação da Vinha) como um “excelente programa”, mas que precisa “de ser reequacionado” e “adaptado à realidade atual”.
E defendeu ainda que são precisas medidas como, por exemplo, a vindima em verde, que já vai ser aplicada pelo terceiro ano em Espanha e que se traduz num apoio direto e imediato ao agricultor, bem como salientou a necessidade de se debaterem questões como a importação de vinhos de mesa, quando o país já tem um problema de excesso de stock.
“Não acreditamos em soluções milagrosas, não vai ser uma solução que vai resolver todos os nossos problemas. O que achamos é que tem que ser um conjunto de soluções”, frisou.
É nos momentos de crise que, segundo Rui Soares, se sente a necessidade uma representação da produção forte e uma organização que represente toda a gente, como a Casa do Douro, cuja restauração como instituição pública e de inscrição obrigatória foi aprovada no parlamento.
A lei entrou em vigor a 28 de abril, depois da promulgação pelo Presidente da República e publicação em Diário da República, tendo o ministério, a partir desse dia, 120 dias para publicar a portaria com a convocatória para as eleições e havendo, depois, mais 120 dias para a realização do ato eleitoral, que deverá acontecer até ao final do ano.