Algumas famílias ainda não têm uma habitação com casa de banho, não têm um frigorifico ou uma cama onde possam deitar os filhos. Muitas não têm água ou electricidade, outras não têm casa, simplesmente. Ainda há cidadãos que vivem sem infra-estruturas básicas e enfrentam graves carências económicas e de condições de vida. Situações que não se passam apenas em países de terceiro-mundo, mas que estão próximas de todos, pois acontecem na aldeia do lado ou no próprio bairro. Em certas localidades do concelho de Vimioso, tal como em muitas outras espalhadas pelo Nordeste Transmontano, ainda existem casos de \"extrema pobreza\". Os mais graves passam-se com idosos e deficientes.
No entanto, e à semelhança daquilo que aconteceu noutros concelhos, surgiu em Vimioso, em 1999, um projecto cujo objectivo primordial é precisamente \"lutar contra os casos de pobreza mais graves\". Chama-se \"Vimioso potenciar o futuro\"e, tem actuado em \"praticamente\" todas as aldeias do concelho e resolvido casos \"tão degradantes que chegam a ser emocionantes\". A reabilitação habitacional, o melhoramento das condições de vida de muitas famílias, ajuda material e psicológica e o apoio a pessoas com deficiência são alguns exemplos do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no âmbito do programa, a par da organização da primeira edição da Feira de Artes e Ofícios de Vimioso e da iniciativa \"férias em movimento\" (dedicada principalmente aos jovens carenciados do concelho).
Este projecto, que é financiado em 80 por cento pelo Ministério do Trabalho e Solidariedade Social e em 20 por cento pela entidade promotora, a Câmara Municipal de Vimioso, conta com o apoio de outras instituições e com o \"trabalho diário\" de quatro profissionais, nomeadamente de um coordenador, um gestor, uma socióloga e uma animadora social.
Passados quatro anos, o projecto \"Vimioso potenciar o futuro\" está na sua fase final (termina no próximo mês) e o balanço é \"bastante positivo\", visto que conseguiu auxiliar cerca de 100 famílias. Alguns dos pedidos de ajuda vieram dos próprios carenciados, outros casos foram \"descobertos\" por \"pessoas de fora\" ou pelos membros do grupo de trabalho.
Segundo o coordenador do projecto, Calos Ventura, o orçamento disponível nunca foi muito elevado nem suficiente, mas \"tentou-se sempre actuar no maior número de casos possível\". O responsável, que reconhece que \"ainda há muito por fazer\", lamenta que o dinheiro tenha \"esgotado\" e que o projecto tenha chegado ao fim.
Pobreza \"nasce todos os dias\"
Também Sérgio Bernardo, membro do projecto de luta contra a pobreza, está envolvido no trabalho que tem vindo a desenvolver e com as pessoas que tem ajudado. Faz visitas às obras que estão em curso, dá sugestões e mete conversa com as pessoas. No seu entender, no concelho de Vimioso, o problema da pobreza é \"um mal controlado, mas longe de estar resolvido\", pois \"a pobreza nasce todos os dias e muitos pobres continuam a ter vergonha de contar os seus dramas\". \"Houve situações que me emo-cionei, porque nem imaginava que determinados casos pudessem existir\", desabafou Sérgio Bernardo.
No entanto, este membro do projecto faz questão de frisar a \"necessidade\" e a \"importância\" de existir, da parte dos cidadãos carenciados, uma \"educação de arrumação, de limpeza e de vontade de trabalhar\". \"As pessoas têm que mudar certos hábitos. Por exemplo, uma senhora a quem construímos uma casa de banho pÎs bacalhau a demolhar na banheira\", comentou o responsável.
Os carenciados agradecem
Arminda Fernandes, de 54 anos, vive na recÎndita aldeia de Serapicos. Faz \"umas horas\" na limpeza das ruas da aldeia e sustenta sozinha 3 filhos. O mais velho tem 20 anos e está a estudar fora. Antes de ter sido auxiliada pelo projecto \"Vimioso potenciar o futuro\" não tinha casa de banho, \"aquecia água ao lume para a família se lavar\", não tinha cozinha, nem as respectivas mobílias, \"não tinha sequer uma mesa\". Agora, tem uma cozinha, \"com frigorífico e lava-loiça\" e já pode comer com os filhos à mesa. De poucas palavras, esta mulher diz apenas que agradece a ajuda. No entanto, há uma coisa que se reconhece à partida: Arminda Fernandes está satisfeita.
\"Deram-me melhores condições e facilitaram-me a vida\", diz José Afonso, um sexagenário natural de Algoso. Um desabafo que se deve ao facto de lhe terem construído, no rés-do-chão da sua habitação, uma casa de banho, um quarto e uma rampa de acesso a estes compartimentos. Pormenores importantes, ou não sofresse ele de \"reumatismo já avançado\".
Em Avelanoso está a ser recuperada e reabilitada a casa, que mais parece um palheiro, onde morava uma invisual. A situação já era \"grave\", mas depois de um incêndio a intervenção tornou-se urgente. Agora, as obras já começaram e espera-se que este caso seja resolvido \"o mais rápido possível\".