A Federação dos Agricultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (Fata) vai levar a cabo nas localidades de Vilarelho da Raia (Chaves), Gostei (Bragança), Lagoa (Macedo de Cavaleiros), Cabeça Boa (Moncorvo), Campeã (Vila Real), Santa Cruz (Armamar) o projecto \"Aldeias de quarta geração.
O grande objectivo desta iniciativa é \"fazer destas aldeias verdadeiros modelos de desenvolvimento rural\", tendo como base o potencial agrícola e a existência de investimento público, nomeadamente em regadio e emparcelamento. Nesse sentido, vai ser posto em prática um conjunto de projectos-piloto na área da agricultura e da agro-indústria, que envolverão investimentos de vários milhares de euros.
Para a aldeia de Gostei, no concelho de Bragança, estão previstos o emparcelamento rural, a instalação de uma unidade familiar de queijos de cabra e de outra de enchidos, a certificação de carne de raça mirandesa e a criação de unidades de restauração, de alojamento, de zonas de lazer junto à barragem e de percursos turísticos.
Em Cabeça Boa, no concelho de Torre de Moncorvo, prevê-se a dinamização e qualificação das unidades de restauração existentes, promovendo a gastronomia local à base do peixe do rio, a qualificação ambiental da Foz do Sabor e a elaboração de um projecto de animação fluvial.
Lagoa, no concelho de Macedo de Cavaleiros, será alvo de projectos de emparcelamento, plantação e reconversão do olival, instalação de um lagar, produção biológica de azeite e criação de uma imagem de marca para o produto, além da instalação de unidades de restauração e alojamento e da criação da zona de lazer do Sabor.
No concelho de Vila Real, estão previstos para a aldeia de Campeã projectos para a criação de um entreposto de produtos da terra e da zona de lazer da Sardoeira, assim como a elaboração de percursos turísticos, a instalação de quartos de aldeia e a qualificação de unidades de restauração.
Para a aldeia de Santa Cruz, no concelho de Armamar, estão indicados projectos de plantação de novos pomares de macieiras, de certificação da maçã e do cabrito e a instalação de unidades de alojamento e restauração.
Em Vilarelho da Raia, no concelho de Chaves, serão realizados projectos para a criação de uma estrutura de armazenamento e comercialização de produtos locais, bem como a de quartos de aldeia e de uma unidade de restauração. Deverá também concretizar-se a exploração comercial de águas minerais e a instalação de uma cozinha típica regional.
Potenciar dinâmicas locais
O presidente da Fata, Abreu Lima, explicou que se pretende \"conciliar todos os agentes institucionais\", assumindo a Fata o papel de agente dinamizador, a fim de \"construir uma região mais solidária, mais desenvolvida, que se torne um exemplo para o país e onde seja possível viver melhor\". No entanto, o dirigente defende que é \"importante\" arranjar verbas para custear os projectos (o programa Agris é uma hipótese), mas também \"mentalizar as organizações para empregar bem os fundos necessários à sua implementação\".
Por sua vez, Rodrigo Beires, o presidente da empresa responsável pelo estudo técnico em que se baseou o programa, a Sociedade de Promoção de Empresas e Investimento do Douro e Trás-os-Montes (Spidouro), defendeu que esta iniciativa deve ter em conta os dados que apontam para uma \"menor intensidade agrícola, com menos gente a trabalhar a terra\" e para a \"diminuição de habitantes\". O estudo elaborado pela Spidouro teve também em atenção \"a dinâmica da procura rural no meio urbano\". Por isso, haverá \"lugares de acolhimento em cada aldeia\", para que \"as pessoas vão lá e comprem os produtos da terra\". Este é, aliás, um \"caminho de viabilidade dos projectos\".
O responsável pelo programa, Luís Ramos, admite que este \"não é o ideal, é o realizável, que vai de encontro às necessidades das populações\". Os estudos basearam-se em experiências recolhidas na Alemanha e na França, \"onde há muito se chegou à conclusão que não haverá desenvolvimento rural sem agricultura\", pois \"à medida que a agricultura vai desaparecendo, deixa de haver pessoas\". Por isso, houve a preocupação implementar nas seis aldeias \"projectos que tenham coerência na sua globalidade\". \"Não se vão inventar coisas novas, há é dinâmicas locais a potenciar\", explicou Luís Ramos. A filosofia adoptada é que em cada aldeia haja projectos \"estruturantes\", pois \"a criação de empregos é mais importante que as estradas\".
A forma como a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais vai colaborar neste programa foi explicada pelo seu responsável, Vasco Costa, ou seja, \"procurando integrar nos projectos elementos que indiquem a riqueza do património e o seu valor, sob os pontos de vista cultural, arquitectónico, entre outros\". Para isso, torna-se \"necessário\" fazer a recolha e o registo dos elementos \"de interesse\", para que o turista possa encontrar referências de natureza cultural.