Afinal a aldeia do Cachão, situada na freguesia de Possacos, concelho de Valpaços, não pertence apenas a uma pessoa. Na sequência de uma notícia publicada recentemente pelo DTM e difundida em todas as estações de televisão, na qual João Calado é apontado como proprietário do Cachão, várias pessoas da freguesia mostraram-se "revoltadas" e reuniram-se para "esclarecer o assunto". Muitas das pessoas que hoje vivem em Possacos foram em tempos habitantes do Cachão. No entanto, esta aldeia não tinha água nem luz, e as condições de vida eram difíceis, pelo que poucos resistiram à mudança para Possacos, a apenas 6 Km. Manuel Vieira, o último habitante, abandonou a aldeia depois de muita resistência, há cerca de catorze anos, mas "não há um dia em que não ponha lá os pés". E como ele há outros antigos residentes que aí se deslocam para fazer os seus trabalhos agrícolas nas propriedades que ainda possuem. São estas pessoas que, ao verem a notícia "nas bocas do mundo", decidiram mostrar a sua "indignação", porque "ele não é dono de tudo, a aldeia não lhe pertence só a ele. Nós ainda temos as nossas casas e os nossos terrenos". Assim, os proprietários reuniram-se em Possacos na passada terça-feira para "fazer justiça", reclamando a posse dos seus terrenos. Maria Terra diz possuir no Cachão uma casa e três terras de cultivo, assim como Manuel Vieira. José Barqueiro tem uma casa e quatro prédios, Amândio Amadeu tem uma casa e três prédios que excedem dois hectares, Maria das Dores Pássaro tem duas casas e seis prédios de cultivo. Mas a lista é extensa. Filomena Coelho tem na aldeia uma casa e quatro prédios, um com cerca de quatro hectares, outro de três, um outro de meio hectare e um último de pequena dimensão. Amélia Vieira e Francisca Saraiva possuem uma casa e dois prédios de cultivo cada uma. Manuel Correia tem uma casa e um terreno de cultivo. Judite Terra e António Vieira são também proprietários de casas e terrenos. Dos dois lagares de azeite existentes, um pertence a Judite Terra e o outro a João Calado. Quanto à capela, é património da Igreja, gerido pela Comissão Fabriqueira de Possacos. Feitas as contas, são mais de uma dúzia as pessoas que se assumem como proprietárias da aldeia, em conjunto com João Calado, que, segundo afirmam "só comprou alguns terrenos e duas casas com anexos aos herdeiros de Olinda Ribeiro". O que está a indignar estes proprietários é o facto de João Calado se assumir perante a comunicação social como o único dono, o que "não é verdade". Filomena Andrade afirma que "ele nunca contou nada a ninguém que ia comprar, nós só soubemos pelo jornal e pela televisão, onde ele se assumiu como proprietário da aldeia. E isso é que nos deixou revoltados". Aldeia deserta mas não abandonada João Vieira, presidente da Junta de Freguesia de Possacos e representante dos proprietários, confirma o sucedido e adianta que "a única coisa abandonada na aldeia são as habitações, porque as terras continuam a ser cultivadas pelos seus proprietários, alguns dos quais se deslocam diariamente ao Cachão". Em 1998, a Junta de Freguesia de Possacos promoveu uma reunião na qual estiveram presentes representantes da Câmara Municipal de Valpaços, da Direcção Regional de Agricultura, da Comissão Regional de Turismo e da Associação de Desenvolvimento da Região do Alto Tâmega (ADRAT). Nessa reunião, a Comissão Regional de Turismo garantiu a aprovação de projectos a fundo perdido com vista à recuperação da aldeia. Para tal havia apenas a condição de, na fase inicial, serem restauradas um mínimo de cinco habitações. A Câmara Municipal de Valpaços comprometeu-se a pavimentar a estrada de acesso ao Cachão e electrificar a povoação caso esse projecto fosse concretizado e, a partir daí, toda a aldeia seria recuperada. Acontece que não houve um único particular que aderisse ao projecto. Ninguém pensou investir no passado e ninguém pensa fazê-lo agora, porque "lá não há água nem luz, e Possacos fica perto, dá bem para fazer aqui a nossa vida", explicam. Criou-se assim um círculo vicioso em que os particulares não investem na aldeia porque não há meios, mas só haverá meios se os particulares decidirem investir. No entanto, a Junta de Freguesia de Possacos apresentou à Direcção Regional de Agricultura, na semana passada, uma candidatura para se proceder à pavimentação do caminho rural de acesso ao Cachão, uma obra orçada em 35 mil contos que espera agora aprovação. Sensacionalismo João Calado, ao ser confrontado pelo DTOM com estes factos, acusou os jornalistas que relataram o caso de terem feito "sensacionalismo". "Eu nunca disse que era o único proprietário do Cachão, só que foi essa a ideia que passou para os jornais e para a televisão, por causa dos jornalistas. Eles é que disseram, não fui eu", diz João Calado. O recente proprietário confirma que, no total, comprou "43 números, dez urbanos e 33 rústicos, que até já estão todos pagos e registados nas Finanças. Mas só no fim do mês é que assino as escrituras". João Calado refere ainda que, em comparação com os outros proprietários "talvez tenha mais do dobro da área", mas adianta: "o que é meu, é meu, e o que é deles, é deles. Não alimento discussões".



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