Cerca de 300 pessoas manifestaram-se este sábado em Montalegre, entoando ‘futuro minado, não obrigado’, numa “demonstração de força” contra a mina de lítio a céu aberto prevista para o concelho e em defesa da vida das populações.

Sob o lema ‘não à mina, sim à vida’, participantes de todas as idades e de vários pontos da região e, até do país, concentraram-se na praça do município da localidade do distrito de Vila Real e percorreram durante uma hora as principais ruas em dia de Feira do Fumeiro, um dos eventos mais importantes do concelho.

“Esta demonstração de força diz tudo. O concelho não quer este tipo de desenvolvimento, como lhe chamam, pois é a destruição do concelho”, sublinhou o dirigente da Associação Montalegre com Vida, que convocou a manifestação, Armando Pinto.

Além do contrato já assinado entre a Lusorecursos Portugal Lithium e o Estado, para exploração na freguesia de Morgade, há ainda mais oito pedidos de prospeção, acrescentou.

Os manifestantes, munidos de camisolas e empunhando cartazes com mensagens de protesto, passaram duas vezes em frente ao recinto onde decorre a Feira do Fumeiro de Montalegre, aproveitando para entregar panfletos e alertar a população e visitantes sobre as consequências da exploração mineira.

Entre as palavras de ordem faziam-se ouvir: ‘futuro minado, não obrigado’ e ‘água sim, mina não’.

Um caixão, fazendo um “funeral simbólico” ao concelho de Montalegre caso a exploração mineira avance, e um barril de lata transformado em pilha gigante, numa alusão à utilização do lítio, chamavam a atenção no meio da manifestação.

Após o percurso, a manifestação regressou à praça do município e terminou com a entoação do hino nacional.

“Esta manifestação superou as nossas expetativas, pois é uma demonstração de força que nós não vamos aceitar que destruam a nossa terra”, sublinhou o dirigente da Associação Montalegre Com Vida.

Armando Pinto garante que “der por onde der” a população não irá aceitar que seja construída uma mina a “cerca de 100 metros das casas”.

Sentindo o apoio de “cada vez mais pessoas”, o dirigente, natural de Morgade, onde está prevista a mina do Romano/Sepeda, realça que a revolta sentida “dá vontade de lutar ainda mais”.

Também de Morgade, Justino Dias, de 37 anos, investiu o seu futuro na localidade, vivendo da agricultura.

A possibilidade da exploração mineira deixa-o preocupado pela “ocupação da terra e contaminação da água”.

“Jovens como eu que pudemos ir para o estrangeiro e não fomos, investimos tudo cá e agora isto pode acabar com o nosso sonho”, realçou.

Já Fátima Fernandes, que participou na manifestação com a sua neta, explicou que toda a aldeia de Morgade está “preocupada”.

“Quer pelas pessoas mais velhas, quer pelos mais novos, todos estamos preocupados com o nosso futuro e vamos continuar a lutar enquanto tivermos forças”, garantiu.

O protesto contra a exploração de lítio em Montalegre contou ainda com a presença de outras associações, como os Unidos em Defesa de Covas do Barroso, do concelho vizinho de Boticas, onde também está prevista uma exploração.

“É uma manifestação de todos os movimentos que estão em vias de ter minas. Estamos todos juntos, pois a luta é a mesma”, destacou Nélson Gomes.

Para o dirigente desta associação, mais manifestações serão feitas se “fizerem falta”, recordando ainda o ditado popular: ‘abre os olhos mula que a carroça vai cega’.

“É o caso, o Governo vai cego e nós temos que abrir os olhos”, considerou.

O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da concessão de exploração de lítio em Montalegre conclui que o projeto possui “impactes negativos” que, no entanto, “não são significativos”, “são minimizáveis” e de “abrangência local”.

O EIA do projeto “Concessão de Exploração de Depósitos Minerais de Lítio e Minerais Associados – “Romano”, elaborado pela Lusorecursos Portugal Lithium, foi entregue em 06 de janeiro à Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

O resumo não técnico do documento, a que a agência Lusa teve hoje acesso, conclui que o projeto “possui impactes negativos, no entanto, estes não são significativos, são minimizáveis e a abrangência é apenas local”.

Por outro lado, acrescenta, “o impacte positivo socioeconómico e a recuperação ambiental e paisagística irão trazer benefícios paisagísticos e da biodiversidade que se sobrepõem aos impactes ambientais negativos provocados”.

Foto: Vitor Pereira



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