O candidato socialista à Câmara Municipal, Carlos Guerra, fez marcação cerrada ao partido no poder há 20 anos em Bragança, acusando-o de aliciamento a membros da sua cor política, de coação e ameaças resumidas num "comportamento padrão lamentável" e acredita que o PSD na noite de 1 de outubro poderá vir a ter uma “desagradável surpresa”.

 

Teve lugar ontem, dia 26 de setembro, o último grande comício do Partido Socialista (PS) antes das eleições autárquicas a 1 de outubro. A inaugurarem as hostes discursivas no Pavilhão Arnaldo Pereira, estiveram uma série de elementos da lista encabeçada por Carlos Guerra com destaque para as intervenções do candidato à União das Freguesias da Sé, Santa Maria e Meixedo, Artur Pires, e do candidato à Assembleia Municipal, Sampaio da Veiga.

A noite aqueceu com a entrada em palco do Secretário de Estado da Administração Interna que voou de Lisboa até à capital de distrito com o único propósito de apoiar a candidatura do seu “camarada e amigo” Carlos Guerra.

No seu discurso, Jorge Gomes começou por fazer referência ao crescimento de Portugal desde que a “geringonça” como o próprio a designou assumiu os destinos do país. “Em 2 anos foram criados mais de 200 mil postos de trabalho. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, a taxa de desemprego no segundo trimestre de 2017 desceu para 8,8 por cento, o défice caiu 1900 milhões de euros e houve um aumento do salário mínimo para 557 euros, que irá ser mexido novamente”, garantiu, para além de que “iremos terminar o ano com um crescimento bruto de 3 por cento”.

Tudo isto para dizer que “valeu a pena a mudança” para, depois, fazer a analogia com a cidade que o viu nascer.  “A Bragança chegou a hora da sua mudança. Bragança tem de mudar e tem esta oportunidade de mudar para uma equipa de excelência para podermos todos ter um percurso e uma vida completamente distinta do que temos tido até então”, defendeu o membro do Governo.   

Já com um tom mais inflamado, o secretário de Estado da Administração Interna mirou, então, para o PSD e, em particular, para o atual presidente de câmara. “Vem aí a grande reforma deste Governo ou como lhe chama o nosso 1º ministro, o “pacote da descentralização”. É o pacote de transferência de poderes do Governo Central para as autarquias com o intuito da administração local, mais próxima dos seus cidadãos, poder gerir com mais eficácia os seus cidadãos do que o poder central que está bastante longe da realidade dos nossos concelhos”, começou por explicar Jorge Gomes às centenas de pessoas que atentas o ouviam e que lhe batiam palmas quase a cada final de frase. “Mas desenganem-se. De nada serve transferir competências para os presidentes de câmara para ficarmos com presidentes de câmara como o que está em Bragança. Não vale a pena! Não vale a pena e eu explico porquê. Um presidente de câmara que tem no seu concelho necessidades e a única coisa que faz é ter 10 milhões de euros no banco, isso é um mau gestor”, frisou, terminando a sua intervenção com uma declaração de amor à cidade de Bragança, ao orgulho que sente em ser do interior e com um elogio à lista de Carlos Guerra, sobretudo às mulheres, mas definindo toda a equipa como “gente com capacidade, gente que quer trabalhar, gente que quer lutar pela sua terra e gente que bem precisamos que lute por todos nós”.

 

“Nós temos gente a precisar de casa no nosso concelho e a última coisa que faz é uma casa de 12 milhões de euros para ter o escritório dele que é a Câmara Municipal que é a maior vergonha”, Jorge Gomes.

 

Por fim, a intervenção mais aguardada da noite de campanha eleitoral socialista. O principal candidato da oposição à presidência da Câmara Municipal de Bragança, Carlos Guerra começou por falar em “20 anos de oportunidades perdidas, 20 anos de atraso, 20 anos de desilusão”. “Felizmente, tivemos os governos do Partido Socialista para fazerem algumas das nossas obras, mas é bom que nunca ninguém em Bragança se esqueça que, em 2011, representantes do PSD discutiam se deviam ou não parar a A4 e o IC5 porque era uma despesa muito grande”, lembrou o candidato socialista.

Em seguida, Carlos Guerra colocou em causa o slogan de campanha de Hernâni Dias, “As pessoas em primeiro”. “Nós, nestes últimos tempos, temos andado pelo concelho inteiro e é verdade que 30 das nossas aldeias ainda nem sequer têm saneamento, mas até encontrámos uma aldeia que nem estrada pavimentada tem”, asseverou, criticando o dinheiro gasto em “festas e foguetório”, enquanto “há bragançanos como nós que nem acesso têm a uma estrada pavimentada”. “É indecente e é assim que as pessoas estão em primeiro?”, perguntou ao auditório, respondendo em sequência: “não é verdade”.

A parte mais polémica do seu discurso surgiria logo depois quando o principal candidato da oposição à Câmara Municipal de Bragança se referiu ao “processo de coação, ameaça e descriminação” praticado, segundo o próprio, pelo PSD. “A comunicação social finalmente pegou no assunto e há uma freguesia que não teve sequer um cêntimo de investimento e o único crime que as pessoas dessa freguesia cometeram foi que votaram no Partido Socialista”, acusou, fazendo menção à notícia do Mensageiro de Bragança, onde foram publicados os investimentos realizados em cada freguesia pela autarquia brigantina.

“O presidente da Câmara, o representante deste município, não tem a vergonha de dizer nalgumas aldeias que se não votarem nele não vai haver uma única obra naquela aldeia. Isto é uma vergonha porque está a fazer chantagem com dinheiros que são dos contribuintes, que são nossos, não é o dinheiro dele”, exprimiu Carlos Guerra, que quis deixar uma mensagem para “este PSD que agora está na câmara”: “sejam ao menos dignos da história do vosso partido. Tenham vergonha na cara!”

 

“Espero que no dia 1 de outubro esses senhores recebam um bilhete de ida, de preferência, para uma escola onde possam aprender os mais elementares princípios e valores democráticos”, Carlos Guerra.

 

Já a segunda parte do discurso foi pautada por algumas medidas do programa eleitoral do PS para o concelho de Bragança, que o candidato aproveitou para destacar perante a plateia, assinalando que algumas até já fazem referência aos fundos comunitários a que podem concorrer. Medidas, a título de exemplo, como a instalação de um projeto hidroagrícola na área sul do concelho, a criação de uma zona industrial no eixo da A4, associada à instalação de um terminal rodoviário TIR, articular com as autoridades espanholas a conclusão da autoestrada entre a Ponte de Quintanilha e Zamora, reforçar a centralidade de Izeda, revitalizar a zona histórica da cidade através do desenvolvimento de um Plano Turístico Municipal, entre muitas outras medidas.  

No final e antes do habitual passeio de campanha em caravana pelas principais artérias da cidade, Carlos Guerra esteve à conversa com a comunicação social, onde reiterou o que se tem vindo a passar durante a campanha eleitoral do PSD. “Em vários dos comícios que o PS tem feito como em Lanção ou Santa Comba de Rossas disseram-nos textualmente que se votassem em nós não teriam nada, não teriam qualquer investimento ou direito a um cêntimo”, sublinhou, caraterizando este tipo de comportamento como “completamente abusivo”. “Só que neste caso vem na sequência do que tem sido um comportamento padrão, que tem a ver com o aliciamento que houve a vários dos nossos presidentes de junta que se passaram para o PSD e outros que foram aliciados, mas que não cederam. Este tipo de situação está a acontecer com uma certa frequência, o que eu acho absolutamente lamentável”, frisou o candidato socialista, até porque “há tanta dignidade em ganhar como em saber perder”.

Para terminar, Carlos Guerra aproveitou a presença dos jornalistas para deixar uma recomendação aos seus adversários na corrida eleitoral que termina já este domingo: “alguns elementos de maior responsabilidade do PSD não entrem em desespero. Até porque eu sei que algumas coisas apontam para que possam ter uma desagradável surpresa na noite de 1 de outubro, mas não há nenhuma razão para que não saibamos comportarmo-nos com a dignidade que estes cargos têm”.

 

 


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