Em Murça perspetiva-se uma quebra na produção de azeite na ordem dos 30% a 40%, com a campanha a culminar um “ano muito complicado” devido à seca, aos incêndios, à falta de mão-de-obra e ao aumento dos custos.
O presidente da Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Murça, Francisco Vilela, classificou 2022 como um ano “muito complicado” e destacou a quebra na apanha da azeitona, um ativo que nos últimos anos se tinha mantido como uma “fonte de rendimento mais ou menos estável” para os agricultores.
Neste concelho do distrito de Vila Real, a campanha da azeitona 2022 está a arrancar um pouco mais tarde devido à mão-de-obra, já que muitos trabalhadores se encontravam na apanha da castanha.
“A mão-de-obra é a mesma e esse é um dos problemas que temos vindo a identificar nos últimos anos”, afirmou à agência Francisco Vilela.
O responsável perspetiva uma quebra de produção que pode atingir os 30% a 40%, principalmente devido à seca extrema que se verificou durante um período prolongado e que provocou a queda do fruto da árvore.
No ano passado, a cooperativa, que tem cerca de 1.000 associados, rececionou à volta de três milhões de quilos de azeitona e produziu meio milhão de litros de azeite.
Também a influenciar esta quebra está o grande incêndio que, em julho, atingiu a zona de montanha (terra fria) do concelho e afetou área de olival e ainda o facto de este ser um “ano de contra safra”.
“Ou seja, normalmente depois de um ano de muita produção, no ano a seguir, as oliveiras não produzem a mesma coisa”, explicou.
Quanto à azeitona que ficou na oliveira, Francisco Vilela disse que está “bonita e saudável” e que beneficiou da chuva que tem caído, considerando que se traduzirá “num rendimento aceitável” do fruto.
A campanha prolongar-se-á até ao final de dezembro.
Entre as dificuldades que afetam o setor, o responsável apontou o aumento generalizado dos fatores de produção e ainda a mão-de-obra e disse temer que alguns agricultores façam contas e decidam abdicar da apanha porque não compensa.
Esta “é uma realidade” e poderá ser, na sua opinião, mais um fator a contribuir para uma ainda maior redução da produção este ano.
A Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Murça colocou em funcionamento na quinta-feira uma nova linha de extração, que “duplica a capacidade de extração diária”, ajudando a diminuir os consumos de água, os custos energéticos e ainda diminui o tempo de espera para a transformação da azeitona, o que se traduz “em termos de qualidade”.
A organização tem em curso um investimento de 700 mil euros, com meio milhão de euros de capitais próprios, e que inclui, para além da linha de extração, ainda uma linha de receção de azeitona e a instalação de painéis fotovoltaicos, os quais estarão a funcionar até ao final de dezembro.
São, segundo Francisco Vilela, 100 quilowatts de potência que vão ajudar a reduzir “o custo energético na ordem dos 30% anual”, apontando que o período de maior consumo energético coincide com esta altura do ano, em que há menos produção de energia fotovoltaica (menos horas de sol por dia).
Entre os dias 17 e 21 de julho, um incêndio que começou em Murça, alastrou para Vila Pouca de Aguiar e Valpaços e queimou 7.184 hectares.
Para ajudar na reflorestação, a cooperativa agrícola e a associação ambientalista Quercus lançaram uma campanha, através da qual “cada garrafão de azeite é convertido numa das árvores de espécies autóctones que serão plantadas nas áreas ardidas”.
Francisco Vilela disse que, até ao momento, a campanha já resultou em “mil árvores”, mas salientou que neste período de Natal será feito um reforço para aumentar este número.
E, numa altura em que as alterações climáticas já são uma realidade e se perspetivam mais anos secos, o responsável alertou para a necessidade de implementar estratégias que passam também pela rega, mas essencialmente pela escolha de variedades de azeitona adaptadas à região.
O município de Murça vai avançar com um estudo hidrológico do concelho com vista à criação de charcas ou áreas de reserva de água.