Mário Augusto Arina veio pequeno da aldeia de Angueira para a sede do concelho, Vimioso, já para trabalhar no comércio, e foi com apenas 15 anos que veio para Bragança, onde acabaria por passar os 80 anos seguintes da sua vida, sempre atrás de um balcão. E "sempre sozinho, sem a ajuda de ninguém", como faz questão de sublinhar.

Primeiro Mário Arina trabalhou como empregado em vários estabelecimentos comerciais da cidade, até que optou por estabelecer-se por conta própria numa das portas da rua Alexandre Herculano. A sua primeira contrariedade na qualidade de comerciante acabou por ser a renda por que ajustou o espaço, pois "no fim do mês o dono da casa obrigou-me a dar o dobro", recorda, gracejando.

Fruto de uma finta que o destino lhe terá pregado, esta não foi a vida que José Arina almejou na juventude. "Nunca gostei de ser comerciante, a minha missão era diferente", diz com firmeza. Um tio, professor e escritor, ajudou a formar a sua mãe, que viria a ser professora primária. E a intenção do benemérito era levar os filhos da sobrinha para um internato, para que estudassem e se formassem também. "Os papéis até já estavam tratados", recorda, mas por essa altura o benfeitor morreu e todos os projectos para o colocar a si a aos irmãos a estudar caíram por terra. "Gostava muito de ter estudado e de ter sido professor", afirma, ainda que sem mágoa. Quanto ao comércio, diz, "vim para aqui forçadamente".

Mesmo assim, e com as mazelas próprias da sua idade, que se agravam no Inverno, José Arina ainda se levanta todos os dias para abrir a porta do estabelecimento, onde já não vende muitos dos artigos com que trabalhou no passado, "em parte por culpa do pronto a vestir". Chegou a ter um "sortido completo de modas, em seda, lã e algodão". E assegura que "tudo o que havia de moderno eu comprava, tinha tudo repleto". Agora vão saindo os cobertores, as bengalas, os chapéus, os bonés e algumas fazendas. "O negócio para mim chega, porque já não posso trabalhar mais", diz.

Contudo, apesar de cansado, o nonagenário ainda se depara com outra contrariedade: a transição para o euro, em que encontra "dificuldade". Um problema que tem que enfrentar sozinho, uma vez que já não tem empregados. Só o filho é que aparece de vez em quando para o ajudar. Mas está tudo marcado na nova moeda, como manda a lei, e o comerciante já tem troco para as duas moedas.

Mário Arina vai assim levando os seus dias, no interior de um espaço onde, de acordo com ele próprio e com a sua idade, se respira o passado. O prédio está "abandonado", e só no ano passado, quando "ameaçou com o tribunal", é que os proprietários fizeram obras no edifício e ele deixou de ter a loja alagada no Inverno.

Por ser o comerciante mais antigo da cidade, a direcção da ACISB, no âmbito das comemorações do centenário da associação, homenageou no passado dia 7 Mário Augusto Arina no seu próprio estabelecimento comercial. Uma honra que recebeu com um modesto "eu não estava a contar com isto".



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