A Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa (ACBRM) decidiu abandonar o matadouro de Bragança, passando a utilizar a unidade de abate do Cachão, no concelho de Mirandela, que nem sequer está no solar daquela raça. A decisão foi tomada há cerca de dois meses, tendo por base questões de rentabilidade.
A saída dos bovinos mirandeses representa uma quebra de 70 cabeças de gado por semana, que passaram a ser encaminhadas para a unidade do Cachão, propriedade da PEC-Nordeste.
Apesar da ACBRM já não utilizar o matadouro de Bragança, a Cooperativa Agro-Pecuária Mirandesa (CAPM), organismo que detém a marca \"Mirandesa\", continua a ser accionista da Terra Fria Carnes. Recorde-se que a sociedade é participada em 49 por cento pela Câmara Municipal de Bragança (CMB), ao passo que o Agrupamento de Defesa Sanitária e a CAPM detêm 26 e 25 por cento do capital, respectivamente.
O presidente da CAPM, António Luís, justifica a saída com razões de competitividade. \"Se queremos estar no mercado, temos de procurar quem nos ofereça condições mais vantajosas e foi isso que encontramos no Cachão, onde já estivemos anteriormente\", alega o responsável.
Bragança é o concelho do País com maior efectivo bovino de raça mirandesa, seguido de Vinhais e Miranda do Douro. Aliás, este foi um dos motivos que pesou na criação do matadouro na capital de distrito e que levou o Ministério da Agricultura a comparticipar o investimento. A unidade foi inaugurada há quatro anos.
Cachão é o preferido
O matadouro do Cachão passa, assim, a ser a unidade de abate preferencial da ACBRM, a par do matadouro de Miranda do Douro, que a Associação utiliza com menos frequência.
A sala de desmancha existente na unidade da PEC-Nordeste é um dos motivos que joga a favor do Cachão. Acresce que a unidade está licenciada para a exportação de carne, que pode vir a ser um dos mercados da carne mirandesa.
Para já, a CAPM mostra-se satisfeita com o serviço. \"Antes de ser feito o matadouro de Bragança já trabalhávamos com o Cachão e as coisas corriam bem, tal como agora\", recorda António Luís.
Apesar das despesas com transporte de gado terem aumentado, o dirigente assegura que a cooperativa consegue reduzir custos com os abates no Cachão. Mesmo assim, não fecha a porta a um eventual regresso a Bragança. \"Usaremos o matadouro de Bragança se for vantajoso. Se não for teremos de continuar a ir a outro lado\", sustenta António Luís.
\"Matadouro de Bragança é competitivo\"
O vice-presidente da CMB, Rui Caseiro, defende que a rentabilidade não é argumento suficiente para a ACBRM ter abandonado o matadouro de Bragança. \"A raça Mirandesa é da região e deveria ser abatida no solar da raça, até porque a CAPM é accionista da sociedade Terra Fria Carnes\", considera o autarca.
Além disso, o responsável recorda que o matadouro bragançano, entre outros objectivos, foi construído a pensar na raça Mirandesa, pelo que considera o abandono da ACBRM como \"um mau contributo para a região\".
Acresce que, segundo Rui Caseiro, a CAPM não propÎs qualquer redução de custos à administração da Terra Fria Carnes, antes de optar pelos abates no Cachão. \"Sair invocando custos não é razoável, pois os preços poderiam ser negociados\", admite o autarca.
Quanto às condições da unidade bragançana, Rui Caseiro rejeita qualquer posição de inferioridade em relação ao matadouro do Cachão. \"Temos todas as condições, seja ao nível do abate ou da sala de desmancha, e preços bastante competitivos\", argumenta o responsável.
Aliás, o autarca salienta que a ACBRM \"sempre teve tratamento especial no matadouro de Bragança\".
Apesar de lamentar o abandono, Rui Caseiro garante que a unidade já repÎs os níveis de abate que ficaram em aberto. \"Tivemos um mês de Agosto superior ao do ano passado, em que a ACBRM ainda estava connosco.\", assevera o autarca.
Mesmo assim, a sociedade veria com bons olhos o regresso dos órgãos representativos dos criadores de raça Mirandesa.