A rádio Universidade FM, de Vila Real, vai fazer um boicote à cobertura das ações de campanha para as legislativas e queixou-se dos “muitos entraves” que estes órgãos de comunicação social têm de enfrentar.
“A Universidade FM decidiu avançar com um boicote a todas as ações de campanha no âmbito das eleições legislativas que se realizam a 06 de outubro”, afirmou hoje à agência Lusa o diretor daquela rádio, Luís Mendonça.
Uma posição idêntica foi já tomada nas eleições europeias de maio, altura em que a rádio Universidade e as restantes seis que integram a Cadeia de Informação Regional (CIR) optaram por não acompanhar as ações de campanha.
Nesta campanha eleitoral, segundo Luís Mendonça, a Universidade FM não vai acompanhar qualquer ação dos candidatos em Vila Real, assumindo apenas entrevistas aos cabeças-de-lista dos partidos com representação parlamentar.
O diretor justificou esta tomada de decisão “com uma série de entraves que têm vindo a ser colocados às rádios locais, com decisões que podem levar, no limite, ao fechar de portas de várias estações emissoras”.
“Os problemas das rádios portuguesas já são há muito tempo conhecidos pela classe política, mas a situação das rádios de proximidade está, em nosso entender, numa fase crítica, decisiva até”, referiu.
Luís Mendonça disse que “existe um mito que importa desmistificar”, esclarecendo que as “rádios não são financiadas pelo Estado” e que “vivem exclusivamente das receitas de publicidade”.
“Só nas eleições autárquicas e nos referendos é que as rádios locais emitem tempos de antena. Em todas as outras eleições as rádios são excluídas pelo Estado. O Estado discrimina as rádios”, frisou.
Luís Mendonça destacou outra “grande dificuldade que está a afetar estas pequenas empresas de comunicação social e que está relacionada com “os direitos conexos”.
“Sempre pagamos uma taxa mensal aos autores das letras e músicas que emitimos, agora os cantores, músicos e poderosa indústria discográfica querem 5% da faturação das rádios, mas com um valor mínimo garantido”, referiu.
E, na sua opinião, “tudo isto é incentivado pelas leis do Estado que lhes [indústria discográfica] dá todos os direitos e os nega às rádios”.
O diretor explicou que todas as entidades a quem já são obrigados a prestar contas, sejam públicas ou privadas, como a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) ou a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), “têm em consideração na cobrança das suas taxas o fator de progressão, atendendo à realidade socioeconómica de cada local”.
“Haverá algum meio que mais apoie e promova os cantores, músicos e editores discográficos do que as rádios? Será justo quererem 5% da faturação com um valor mínimo garantido?”, questionou.
Este é um valor que, segundo o responsável, “é muito elevado e que estas pequenas empresas não conseguem pagar”.
Luís Mendonça considerou que o “Estado não defende os direitos das rádios", que "os políticos não ouvem as rádios” e que, por isso, “chegou o momento das rádios não ouvirem os políticos”.
A campanha eleitoral decorrerá entre os dias 22 de setembro e 04 de outubro.
Foto: ufm