Os amantes do todo-o-terreno puro e duro bem podem andar de alma cheia. A prova «Murça 2006», que hoje termina naquele concelho transmontano, tem deliciado, nos últimos três dias, centenas de espectadores nacionais e estrangeiros que não querem perder pitada, nem tão- pouco privar-se de imortalizar cenas de autêntica aventura em câmaras de vídeo ou máquinas fotográficas. O evento é organizado pela empresa espanhola Sin Limite, conta com o apoio da Câmara de Murça e já terá conquistado um lugar no cartaz de atractivos do concelho.
As margens sombreadas do rio Tua serviam, ontem, para assar fêveras e barriga de porco, que o português preza-se de trazer a merenda por perto, ainda por cima com tanta adrenalina à solta. Já eram cerca de 13 horas quando as 30 duplas de pilotos portuguesas, espanholas e francesas, arrancaram para o terceiro dia de provas. \"Se sabia, tinha saído de casa às 11 horas\", queixava-se um casal da zona de Braga, viciado neste tipo de provas, que acreditou que a partida era às 10 horas, conforme constava do programa. \"Mais valia ter ido almoçar primeiro\", protestava outro, que aguardava, pé firme, junto a uma rampa rochosa onde os jipes teriam de subir.
Qualquer arrelia mais persistente haveria de esfumar-se, mal o primeiro participante partiu. Era espanhol. Usou o guincho para melhor ultrapassar a rampa, vindo das águas do rio Tua. O segundo fez o mesmo. O terceiro, português, quase levava na frente o co-piloto que o coadjuvava cá fora, mostrando-lhe por onde encarreirar as rodas. Para surpresa dos presentes, arrancou sem guincho e superou a barreira. Bateram-se palmas em abundância. \"Estás a ver como isto é um espectáculo, pai!\", ouvia-se dizer um jovem que, está-se mesmo a ver, havia convencido o progenitor a levá-lo a sofrer os 38 graus que os termómetros marcavam àquela hora.
Por água, lama ou terra mais firme, os potentes e equipados jipes tentaram, durante toda a tarde e noite de ontem, chegar-se o mais à frente na classificação, de modo a enfrentar com mais comodidade as provas desta manhã, na pista de autocross de S. Domingos. Diz quem sabe que são as mais espectaculares.
Virgílio Barros e o co-piloto Daniel Mendonça, naturais de Faro, venceram as duas últimas edições. Ontem estavam bem classificados para atacar o primeiro lugar que rende 10 mil euros de prémio. Apesar de tudo, queixam-se de que, este ano, \"a prova não está a correr muito bem, derivado a um problema com a direcção e do aquecimento da viatura\".
Por outro lado, queixaram-se de percursos longos no rio, com \"poucas especiais cronometradas\".
Essa prova ocorreu sexta-feira à noite, num afluente do Tua, e terá sido, segundo vários pilotos, a mais dura de todas. Daí que, ontem de manhã, todos espelhassem no rosto o cansaço da véspera. Alguns foram dormir em camas de gente, mas outros descansaram \"nas vinhas junto ao Tua\", como confessou o piloto de Valpaços, Amândio Malta. Terá sido esse mau descanso que fez atrasar a prova de ontem.