A Associação Palombar está a desenvolver um projeto que pretende destacar a importância das aves na proteção dos ecossistemas no Nordeste Transmontano, uma iniciativa que conta com a colaboração da comunidade agrícola, escolas e autarquias, foi hoje anunciado.

Segundo o presidente desta Organização Não Governamental (ONGA), José Pereira, a iniciativa é conhecida como “Reconecta-te à Natureza - as aves fazem mais do que cantar” e sensibiliza para “serviços que a avifauna presta aos ecossistemas".

"Temos por missão, através deste projeto, o controlo de pragas, reciclar nutrientes, limpar habitats, aumentar a produtividade agrícola e promover o crescimento florestal, e ao mesmo tempo sensibilizar a comunidade para estes e outros serviços de ecossistemas fundamentais prestados pela avifauna", concretizou à Lusa o também biólogo.

De acordo com a direção da Palombar, uma associação ambientalista com sede em Vimioso, no distrito de Bragança, este projeto é financiado pelo Fundo Ambiental e foi aprovado em outubro, tendo uma dotação de 44 mil euros, e tem como área de intervenção os municípios abrangidos pela Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes, que é composta por nove concelhos.

Outra das vertentes do projeto é capacitar os cidadãos, oferecendo ferramentas que lhes permitam intervir de forma sustentável no capital natural presente nesta região "através de materiais lúdico-pedagógicos-informativos e ações de formação".

"O propósito é alterar comportamentos e promover o envolvimento da comunidade, potenciando uma cidadania ativa, participativa e informada, em prol da sustentabilidade ambiental”, defendeu José Pereira.

O biólogo disse ainda que, adicionalmente, o projeto pretende aproximar a sociedade da ciência, através da transmissão de conhecimentos científicos de forma simples e prática, envolvendo diferentes intervenientes com papéis importantes na conservação da biodiversidade.

O projeto tem como foco dois grupos de avifauna: os passeriformes e as aves de rapina.

José Pereira pegou no exemplo da coruja das torres e disse à Lusa que esta ave pode comer até 10 ratos por dias e se tiver crias o número poderá triplicar. Já uma andorinha em pleno voo pode alimentar-se de insetos até duas vezes mais o seu peso.

"Estes são dois bons exemplos de aves de rapina e passeriformes que ajudam a controlar as pragas e a contribuir para a saúde pública na sociedade e que é preciso preservar e estudar", vincou o responsável.

A execução do projeto ambiental vai contar ainda com materiais adicionais para sua divulgação, como vídeos, cartazes, ‘kits' com conteúdos pedagógicos "para os docentes abordem as temáticas do projeto em contexto escolar".

Vão ser também implementadas, neste território de intervenção, várias ações com vista à identificação e monitorização de ninhos de tartaranhão-caçador para promover a sua proteção e sucesso reprodutivo, em estreita colaboração com os agricultores locais, com o intuito de criar uma rede de proprietários agrícolas "Amigos do Tartaranhão-caçador".

"O público-alvo é a comunidade escolar e os agricultores, mas também a comunidade em geral", especificou José Pereira.

 

Aves que ocorrem nos habitats agrícolas estão em declínio: é urgente agir para as conservar

A biodiversidade de avifauna na Europa está a sofrer uma redução sem precedentes. Estudos recentes alertam que 39% de um universo de 170 espécies de aves comuns encontram-se atualmente em acentuado declínio populacional, sobretudo aquelas que ocorrem em habitats agrícolas. Em Portugal, a situação é especialmente dramática para espécies com as quais estamos habituados a lidar no nosso dia-a-dia, espécies comuns, que afinal já não o são. É o caso do pintassilgo (Carduelis carduelis), da andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) e da rola-brava (Streptopelia turtur), esta última com uma diminuição populacional de 80% nos últimos 15 anos.

O declínio das populações de aves selvagens leva a uma diminuição preocupante dos seus serviços para os ecossistemas, afetando o seu equilíbrio e manutenção, e gerando consequências nefastas para os habitats, a biodiversidade e para as comunidades e o seu bem-estar.

Os principais fatores responsáveis por esta perda de biodiversidade são as atividades humanas assentes em práticas agrícolas insustentáveis, a homogeneização e consequente degradação do mosaico agro-silvo-pastoril, o uso de agroquímicos e ainda os impactos diretos no sucesso reprodutivo de várias espécies, como a destruição de ninhos.

Na região de Trás-os-Montes, a agricultura tem um papel fundamental a nível social, ambiental e económico e contribui significativamente para a preservação da paisagem. É, por isso, essencial implementar no território medidas amigas do ambiente que permitam promover uma gestão sustentável dos recursos naturais, que assegure a preservação da biodiversidade, por um lado, e a viabilidade socioeconómica das zonas rurais, onde o setor primário é determinante, por outro.

Os serviços naturais para os ecossistemas tendem a aumentar e a manterem o seu equilíbrio com o aumento da biodiversidade, sendo esta uma componente chave dos ecossistemas multifuncionais. Urge, desta forma, fomentar o conhecimento da comunidade sobre o potencial das aves e das suas funções ecológicas nos ecossistemas, com o objetivo de assegurar a continuidade da interação harmoniosa e sustentável atividades humanas-habitats-biodiversidade, a qual promove benefícios mútuos essenciais para garantir a sobrevivência e o bem-estar de todas as formas de vida.

*com Lusa

Foto: José Sousa , Coruja-das-torres "Tyto alba"



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