Sem urgências na área de pediatria no Hospital de Valpaços, e com o filho pequeno doente, Cristina Guedes e o marido não pensaram duas vezes. Meteram-se à estrada e decidiram recorrer às urgências pediátricas do Hospital de Chaves, a unidade de saúde de referência do Alto Tâmega, que fica a cerca de 25 quilómetros de Valpaços. Mas a viagem foi em vão. O filho de Cristina Guedes foi, na mesma, atendido por um clínico geral.
\"Disseram-nos que não havia pediatra. A minha filha foi atendida por uma clínica geral, mas como ela não conseguia chegar a nenhuma conclusão [a propósito das doses de medicamentos a prescrever], ligou à pediatra e foi medicada pelo telefone\", explicou, ao JN, a mãe da criança.
Até às 15 horas de ontem, e durante todo o dia de anteontem, as urgências de pediatria do Hospital de Chaves funcionaram sem especialista em regime de presença física. As crianças que se deslocaram à esta unidade de saúde foram atendidas por um clínico geral que, em situações complicadas, recorria a um pediatra destacado em regime de prevenção, que não estando no hospital tem de estar contactável.
A situação provocou um sentimento de indignação junto dos pais e, ao que o JN apurou, dever-se-á ao facto dos pediatras do hospital se terem recusado a fazer horas extraordinárias nas urgências desde o primeiro dia deste mês. Uma forma de luta que terão desencadeado para \"obrigar\" o Conselho de Administração do Hospital a contratar um clínico geral especificamente para dar apoio às urgências de pediatria. Os especialistas alegarão que é \"humanamente impossível\" a um só pediatra atender entre 70 a 80 crianças por dia, como acontecerá agora.
Desconhecendo os motivos dos pediatras, os pais das crianças que iam chegando e tomando conta da situação mostravam-se indignados. \"Eu acho que é uma vergonha e não se justifica no Hospital de Chaves\", dizia, revoltada, Cristina Guedes. Carlos Bandeira, que se deslocou ao hospital porque o filho \"não se encontrava melhor\", desde a última vez que ali fora atendido, era da mesma opinião. \"Acho mal que seja assim! Na minha opinião, deveria haver sempre um médico de permanência!\", frisava Carlos Bandeira, também natural de uma localidade de Valpaços.
Revelando que Administração e a pediatria estarão já em \"negociações\", o médico responsável, ontem, pela equipa de urgência, Francisco Taveira, confirmou apenas que, no período referido, a pediatria funcionou em \"regime de prevenção\".