Mais de 40 freguesias do distrito de Bragança têm já vencedor anunciado nas autárquicas com um aumento do número de casos em que apenas um partido se apresenta a eleições por impossibilidade de formar mais listas.
Partidos e candidatos apontam a falta de gente como uma das principais causas do fenómeno que se revela favorável ao partido no poder na Câmara Municipal dos respectivos concelhos.
O PSD lidera há oito anos os municípios e concorre sozinho a dez das 26 freguesias de Mogadouro, e a 13 das 38 do concelho de Macedo de Cavaleiros.
O PS concorre sem adversários a 18 das 28 freguesias do concelho de Vinhais, onde é poder há 16 anos.
O presidente da Câmara, Américo Pereira, candidata-se ao segundo mandato, depois de ter \"herdado\", há quatro anos, a presidência que o socialista José Carlos Taveira conquistou num antigo bastião social-democrata.
Longe dos tempos da hegemonia PSD, o candidato do partido à Câmara, Carlos Costa, queixa-se de que \"é quase impossível conseguir fazer listas para as juntas, a quem está na oposição\".
\"Porque há pouca gente é impossível fazer uma lista com 12 pessoas. Os cadernos eleitorais têm mais de 150 inscritos, mas na prática são 60 ou 70 e 20 ou 30 estão fora\", exemplificou.
O segundo candidato do PSD à Câmara de Mogadouro, o social-democrata João Henriques, prefere acreditar que esta situação se deve \"ao bom trabalho\" que os que concorrem desempenharam e \"à falta de apoio\" àqueles que não conseguem fazer listas\".
A preocupação deste candidato é \"o perigo da abstenção\", por temer que \"as pessoas fiquem em casa por pensarem que já está decidido\".
Em Macedo de Cavaleiros, o socialista Rui Vaz, candidato à Câmara, acusa o PSD de ter contribuído para impedir a elaboração de mais listas com \"a recolha desenfreada de assinaturas para as listas deles\".
Ainda assim, disse não ter \"receio de que possa influenciar o resultado para a Câmara\", lembrando, que outro socialista, Luis Vaz, perdeu a autarquia há oito anos e \"tinha vencido em 25 das 38 freguesias\".
Para o presidente da federação distrital de Bragança do PS, Mota Andrade, a falta de alternativas \"não é bom para a democracia\", mas entende que o fenómeno se resume às pequenas freguesias.
\"Basta o mesmo (presidente de junta) que foi pelo PS, na vez seguinte ir pelo PSD para secar tudo à sua volta\", exemplificou.
Para Mota Andrade \"é evidente que a desertificação ajuda a que cada vez mais possa acontecer\" e prevê que \"a prazo terá de haver um reordenamento geográfico dessas freguesias\" para ganharem dimensão.
Já o presidente da distrital de Bragança do PSD, Adão Silva, teme que esteja a iniciar-se um fenómeno de \"corrosão da democracia pelos pés\", que começa por afectar a base (a freguesia) e pode estender-se a outros patamares.
Para Adão Silva, o despovoamento e envelhecimento das aldeias está a fazer com que se perca a \" a tensão social criativa, produtiva que resulta da diferença ideológica \", o chamado \"conflito criador\".
\"Havia sempre um grupo de fiéis (dos partidos) que mantinha a chama acesa. O que se verifica desta vez é uma espécie de esmorecimento\", disse.