O subsecretário do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, organismo da Santa Sé, disse este domingo em Fátima que a emigração é uma resposta insuficiente para os problemas de um país.
“Alguns países que adotaram a migração internacional como estratégia de desenvolvimento parecem ter-se fixado nessa decisão, justificando, assim a sua omissão na identificação de verdadeiras e próprias políticas de desenvolvimento”, disse o padre Gabriele Bentoglio, durante o XII Encontro de Formação de Agentes Sociopastorais das Migrações, promovido pela Igreja Católica em Portugal.
Este responsável falou em “perda substancial de confiança”, por parte dos emigrantes, em relação a uma pátria que os “empurra”, alertando para as “consequências nefastas sobre a disponibilidade dos mesmos emigrantes colaborarem ativamente no desenvolvimento do seu país”.
“Convencidos de que a migração internacional qualificada dá maior garantia de sucesso e aumento das remessas, alguns países incentivam o êxodo massivo de profissionais preparados e de técnicos, com efeitos negativos na prestação de serviços no território nacional”, constatou.
O responsável do Vaticano lamentou uma “espécie de concorrência entre países de origem na colocação dos seus trabalhadores no mercado externo”, afirmando que a mesma pode levar “à ‘venda’ dos próprios cidadãos em termos de direitos e de salários mínimos”.
“Muitos dos Estados que são caraterizados por uma grande exportação de mão de obra têm reais dificuldades na proteção de seus cidadãos no estrangeiro”, assinalou ainda.
O padre Gabriele Bentoglio sublinhou, por outro lado, que muitos migrantes “são forçados a contrair dívidas” durante o seu processo de saída do país e que, “em muitos casos, a realidade migratória é bem diferente daquela contada e imaginado antes da partida e o dinheiro não é suficiente”.
Os participantes no encontro de formação manifestaram “solidariedade e compreensão” para com quem decide deixar o seu país, constatando o “empobrecimento” que essas saídas originam e desafiando à “manutenção de laços com Portugal”.
Segundo o texto conclusivo, serão cinco milhões e meio os portugueses a viver no estrangeiro, aos quais se somaram, em 2011, outros 120 mil cidadãos, um “número nunca atingido durante as décadas de maior emigração portuguesa, como nos anos 60” do século passado.
Em Fátima, o subsecretário do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes afirmou também que a questão “mais escaldante” neste campo é a do “encontro entre o cristianismo e as outras grandes religiões do mundo e culturas do planeta”.
“O diálogo é muitas vezes difícil, porque termos como justiça, verdade, dignidade e direitos da pessoa humana, laicidade, democracia e reciprocidade, no mundo islâmico têm significados diferentes daqueles que lhes são atribuídos na cultura europeia”, admitiu, qualificando como instrumentos “indispensáveis” o diálogo e a educação intercultural.
O XII Encontro de Formação de Agentes Sociopastorais das Migrações assinalou o início das comemorações dos 50 anos de fundação da Obra Católica Portuguesa de Migrações, uma das instituições organizadoras desta iniciativa em parceria com a Caritas Portuguesa e a Agência Ecclesia.