Ainda a apalpar o pulso aos zamoranos, Sandra Martins espera conquistá-los pelo estÎmago. Há duas semanas abriu um restaurante no centro de Zamora, com especialidades lusas bacalhau à brás, rissóis de marisco e pastéis de bacalhau. A estratégia passa por atrair os muitos espanhóis que se deslocam a Miranda do Douro para comer o famoso \"bacalau\".

\"Abrimos o negócio com uma referência a Portugal, para já estamos contentes com a procura\", conta. O local começa a ser ponto de encontro dos portugueses que trabalham na região de Zamora. Ao balcão, Paco, um luso-descendente, com mãe e avós nascidas na aldeia de Deilão, em Bragança, esquiva-se à conversa, mas acaba por admitir que passa frequentemente a fronteira para visitar a família.

Sandra Martins viveu 15 anos em Madrid, mudou-se para Zamora porque «aqui as pessoas relacionam-se muito bem com os portugueses, há uma ligação mais estreita». Ambas as regiões, Bragança e Zamora, têm a ganhar com o estreitamento de relações, «as escolas fazem algum intercâmbio, as crianças de cá vão a Portugal e vice-versa», refere.

A forma risonha e branda, por dentro atormentada e trágica, com que Unamumo, escritor espanhol, descrevia Portugal ainda exerce algum misticismo em Espanha. \"Quanto mais vou, mais desejo voltar\", admite Maria Alonso, administrativa reformada.

\"Lutar juntos\"

Esta permutação de pessoas e bens poderá sair reforçada após a construção da Ponte Internacional de Quintanilha, um projecto ibérico que fará a ligação entre o IP4 e as estradas espanholas. Cá e lá reclama-se a ligação entre a ponte e as auto-vias espanholas e a transformação da estrada 122 em auto-estrada. \"Temos que lutar juntos\", referiu Francisco Ramos, zamorano, empregado dos Correios. A sua mulher, Maria Alonso, diz que é fundamental que as duas regiões colaborem para ganhar força no contexto europeu e assim conseguir financiamentos para co-projectos, à semelhança do Programa Leader, que apoia parcerias raianas. O desenvolvimento passa, fatalmente, pelos políticos, \"os governos terão de sentar-se à mesma mesa\", acrescenta.

Fernando Crespo, empregado de um quiosque onde não se vendem jornais portugueses, apesar de existirem títulos ingleses e franceses, acredita que com o tempo acabaremos por ser a verdadeira \"jangada de pedra\" de Saramago, \"uma única região\".

Porém, há ainda muito a fazer. Mesmo com mais de 700 anos, a fronteira \"não pode delimitar ideias ou projectos\". Afinal, \"somos todos uns\", diz. Em Rio de Onor (Bragança) e Rio Honor (Castilla), querem criar a primeira aldeia europeia.



PARTILHAR:

Zangarrones, los carochos o los cencerrones

«Movimento Pró Vila Real»