José João Bianchi tinha 20 anos no dia 25 de Abril de 1974. Na altura, já se encontrava a leccionar numa escola da cidade de Vila Real e foi precisamente a caminho do trabalho que se apercebeu de que algo estaria para acontecer.

Foi através de um amigo que José Bianchi soube que estaria para se dar em breve um golpe de Estado. No entanto, as incertezas sobre o que poderia acontecer e como eram muitas. Nem a comunicação social portuguesa da altura poderia esclarecer mentes mais inquietas, visto que, como lembra José Bianchi, a sua credibilidade era \"diminuta\". Por isso, foi graças à estação radiofónica inglesa BBC que a grande maioria dos vila-realenses pÎde acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.

Na rua, o tema preferencial de conversa era o que poderia estar a passar-se em Lisboa, apesar de num tom mais baixo e com pessoas que se conheciam. José Bianchi lembra-se \"muito bem\" das incertezas que pairavam e foi com expectativa que Vila Real esperou o desenrolar dos acontecimentos na capital. As ruas da cidade estiveram quase desertas. Os polícias desapareceram das ruas, as escolas e instituições públicas fecharam e a população aguardava em casa por informações sobre o que estava a acontecer. \"A vida na cidade não parou, mas amorteceu consideravelmente\", recorda o professor.

Foi apenas no final do dia que chegou a Vila Real a confirmação de que o golpe de Estado tinha sido um êxito e que o regime ditatorial tinha caído. Mas, mesmo assim, havia incertezas e a população receava pelas consequências deste facto. Por isso, a expectativa manteve-se, a par de algum alívio um alívio, pois muitas pessoas, entre elas José Bianchi, tinham visto alguns dos seus amigos e familiares presos pelo regime do Estado Novo.

No dia 26, realizou-se à volta da estátua de Carvalho Araújo, no centro da cidade, uma pequena manifestação, a primeira em Vila Real a seguir à queda do regime. José Bianchi diz que estariam ali apenas cerca de 150 participantes, pois a população, habituada à opressão em que tinha vivido até então, receava ainda levantar a voz. A verdadeira manifestação pós 25 de Abril que se realizou em Vila Real, e que José Bianchi acredita que tenha sido a \"consumação da revolução\", realizou-se no dia um de Maio. Por trás da organização desta iniciativa esteve José Bianchi.

O professor recorda que o sentimento de \"alívio\" que se seguiu se ficou também a dever ao reconhecimento internacional, ao final da guerra colonial e à perspectiva de que os ciclos de pobreza em que o país vivia seriam ultrapassados. Na sua opinião, as mudanças fizeram-se logo sentir, não só no plano cívico como nos costumes, sendo a liberdade o \"ponto fulcral\" desta revolução.

Para José Bianchi, o antes e o depois do 25 de Abril de 1974 representam a água e o azeite. Trata-se de dois momentos opostos que se separam apenas por um único dia, por um único acontecimento.



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