A população de Vale da Porca queixa-se que o rio Azibo está \\"morto\\" num percurso de cerca de quatro quilómetros, entre a barragem do Azibo e a veiga da Dona. E acusa a Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros pelo estado de deterioração a que aquele curso de água chegou, devido ao lançamento no rio dos detritos provenientes da lavagem dos filtros da Estação de Tratamento da Água.
Há 26 anos, as margens do rio Azibo eram \\"um paraíso\\" para os pescadores desportivos e para as pessoas que as frequentavam aos fins de semana. A própria população de Vale da Porca criou hábitos de pesca artesanal, que foi aperfeiçoando ao longo dos anos. Por isso, os galrichos, feitos por um artesão de Morais constituíam, além da cana de pesca, apetrechos que alguns moradores utilizavam com perícia para pescar escalos, bogas e barbos. A memória daqueles utensílios ainda hoje é conservada nas suas casas pelos utilizadores mais entusiasmados. \\"A fartura era tanta que por vezes os peixes até apareciam nos tanques de rega, trazidos juntamente com a água que era puxada do rio pelos motores de rega\\", dizem os pescadores, garantindo que \\"nesse tempo, podiam apanhar-se nas margens do rio mexilhões e lagostins de água doce, com os quais se faziam grandes petiscos\\".
No entanto, com o início da construção da Barragem do Azibo, os peixes começaram a desaparecer a pouco e pouco, devido aos resíduos provenientes das mudanças de óleos dos motores de máquinas e viaturas, bem como dos restos de combustíveis que eram despejados no rio pelo empreiteiro. Esta situação agravou-se, quatro anos depois, com a entrada em funcionamento da Estação de Tratamento de Água (ETA) que abastece grande parte do concelho. Os populares afirmam que o sulfato de alumínio e o hipoclorito que são derramados diariamente no rio quando são lavados os filtros são os principais responsáveis pelo desaparecimento dos peixes num percurso de quatro quilómetros de rio, entre a barragem do Azibo e a veiga da Dona , mais propriamente no local da junção do rio Azibo com a ribeira de Salselas. \\"Tanto assim é, que em Banrezes já há peixes\\", justifica um morador de Vale da Porca.
Mas não foram apenas os peixes, os mexilhões e os lagostins que desapareceram desta parte do rio. Sumiram-se também as rãs, os cágados, os sapos e as cobras de água. E, de acordo com os moradores, \\"estas espécies de bichos eram úteis aos agricultores como exímios exterminadores de pragas\\".
Ao longo destes anos, a população de Vale da Porca tem manifestado aos vários executivos camarários as suas preocupações relativamente a esta situação. Os populares dizem que, em épocas eleitorais, os candidatos prometem resolvê-la, mas que, quando chegam ao poder, a \\"ignoram\\" totalmente. No entanto, pensam que \\"nunca como agora houve tantas possibilidades de arranjar uma solução\\". No seu entender, tudo poderia ficar resolvido com a ligação do esgoto da ETA à rede de esgotos domésticos, que muito brevemente deverão passar a ser tratados na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), actualmente a ser instalada.
No entanto, a chefe da Divisão de Ambiente e salubridade da Câmara de Macedo de Cavaleiros, Cristina Silva, disse ao SemanDTOM que esta sugestão dos populares não pode ser adoptada, devido à \\"baixa cota\\" da ETA, que o \\"não permite a ligação\\". Além disso, esta responsável admitiu que, embora esteja há quatro anos na Câmara, \\"ignorava\\" a situação do rio Azibo. Mas garantiu que ia averiguar a situação, nomeadamente através de análises à água, para apurar responsabilidades.