Quase metade dos espanhóis, 45,7%, quer a união entre Portugal e Espanha, com a maioria a defender que o novo país deve chamar-se Espanha, ter Madrid como capital e manter o regime monárquico, de acordo com uma sondagem.
A sondagem, realizada pela Ipsos para a revista Tiempo refere que o apoio à união dos dois países é particularmente elevada entre os mais jovens, dos 18 aos 24 anos, com mais de metade (50,8%) a favorecerem essa opção.

Entre os que favorecem a fusão, 43,4% dizem que o novo Estado deve chamar-se Espanha, contra 39,4% que favorecem a opção de «Ibéria», e apenas 3,3% favorece ver Lisboa como a capital do novo Estado, contra 80% que querem Madrid.

Cerca de metade dos eleitores defende que o novo estado deve manter-se com o regime monárquico, que vigora em Espanha, contra 30,2% que defendem que o «novo país» seja uma República.

A sondagem surge semanas depois de o semanário português Sol ter revelado uma sondagem que indicava que 28% dos portugueses favorecem a união com Espanha.

Para ilustrar o cenário documentado na sondagem, a revista Tiempo visita as aldeias vizinhas de Rionor de Bragança, em Portugal, e Rihinor de Castela, em Espanha, localidades onde a única divisão evidente é no rio que as separa.

O sentimento de proximidade com Portugal é particularmente forte nas regiões fronteiriças de Espanha que, em alguns casos se sentem mais próximas à realidade portuguesa do que ao distante centro do poder espanhol, em Madrid.

As duas localidades chegaram mesmo a tentar, em 2005, avançar com um «Conselho de Rio Honor de Europa», uma iniciativa que pretendia unir os esforços dos habitantes dos dois lados do rio para conseguir apoio europeu para o desenvolvimento da região.

O projecto, simbolizando as tentativas do passado de unificação dos dois países, acabou por falhar ao fim de três ou quatro reuniões, devido a desconfiança sobre a gestão dos eventuais fundos e à sua distribuição.

No caso os habitantes da Rionor espanhola temiam que a maioria dos fundos fossem para a sua «irmã» portuguesa, maior e, por isso, capaz de reivindicar mais ajudas.

Enquanto não se revolve o diferendo ficam pendurados projectos de cerca de 600 mil euros que os promotores da iniciativa dizem ser necessários para revitalizar e recuperar os cascos históricos das duas localidades e melhores as suas estruturas públicas.

A Tiempo, que dá direito de chamada e cinco páginas ao assunto, acaba por relembrar que o projecto «iberista» tem já mais de cinco séculos, surgindo pontualmente e evidenciando-se, com mais força, no século 19, na altura como um dos ideais da revolução espanhola.

Em 1848 chegou mesmo a nascer o Club Ibérico, formado por 400 portugueses e espanhóis que desafiou Paris apresentando mesmo uma bandeira Ibérica de quatro quadrados coloridos - branco, vermelho, azul e amarela.

Em 1873 nasce, por iniciativa espanhola, a Associação Hispano-Lusa e, já no início do século 20, volta a esmorecer o projecto, ainda que em Espanha várias individualidades - o poeta Joan Maragall ou Alfonso Castelão (pai do nacionalismo galego) - tenham continua a defender o projecto ibérico.

A proximidade cultural entre os dois países é hoje um dos factores que vários analistas argumentam como justificativo do sonho ibérico, como é o caso de Faustino F. Alvarez, colunista na imprensa espanhola e que se declara «luso-hispano, ou vice-versa».

Alvarez recorda as constantes referências ao «outro» na literatura dos dois países, a entrada conjunta no mercado europeu e até o relacionamento de «primos distantes» entre Salazar e Franco ou a «inspiração» que o 25 de Abril foi para Espanha.



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