Na freguesia mais distante de Lisboa, a população de Rio de Onor vota hoje ao ritmo dos poucos que ali vivem com votos pela chegada da vacina para recuperar o movimento na turística aldeia do concelho de Bragança.
A pandemia de covid-19 acabou com os autocarros de turistas, sobretudo ao fim de semana, na histórica aldeia do comunitarismo dividida entre Portugal e Espanha, agora reduzida a poucas dezenas de habitantes, sobretudo idosos.
“Nunca mais nos chegam cá as vacinas”, desabafou hoje à Lusa Teresinha do Menino Jesus, a oitava a descarregar o voto na manhã de hoje, na única mesa instalada no museu da “Casa do Touro”, um espaço de memória das tradições da aldeia.
Aos 76 anos, Teresinha confessou que anda assustada com a pandemia, embora entre os habitantes da aldeia, tanto do lado espanhol como do português, não tenha havido até agora “grandes problemas”.
Entre as lides do quotidiano, decidiu ir votar a meio da manhã, sem medo de houvesse ajuntamento, pois “o ritmo é igual” nas eleições, embora em alguns atos eleitorais, como a escolha dos autarcas, tenham maior afluência.
Sem filas e espaçadamente, os eleitores foram chegando à mesa de voto com 91 inscritos, que incluem também a vizinha aldeia de Guadramil, todos eleitores da freguesia de Aveleda/Rio de Onor, a mais distante da capital de portuguesa, a mais de 500 quilómetros.
“Mas somos os mais próximos do centro da Europa”, atirou o presidente da mesa, Jorge Afonso, um dos cinco elementos da equipa que acompanha o ato eleitoral e que se destacam pela juventude em relação ao resto da população.
“É o frio, são poucos e é a covid”, tudo contribuiu para o pouco movimento neste dia de eleições, como observaram e como era possível constatar nas ruas desertas, onde, durante a reportagem da Lusa, apareceram três mulheres, para irem votar.
Antes de começar a fazer o almoço, Maria Joaquina foi votar numa eleições que considera serem “um bocadinho diferentes por causa da pandemia”.
“Parece que a gente tem medo, mas temos de sair e para votar faço questão, apesar de ser de risco, eu e o meu marido”, partilhou com a Lusa.
Com um pé em Portugal e outro em Espanha, a aldeia de Rio estava habituada ao movimento, sobretudo de espanhóis.
“Agora é raro ver passar um carro aqui”, observou Teresinha do Menino Jesus.
Os cinco elementos da mesa de voto aguardam pelos eleitores com o frio típico da época em terras transmontanos, do qual não se conseguem abrigar com a porta aberta da “Casa do Touro”.
Nenhum foi testado na véspera, todos usam material de proteção individual, disponível também para quem for votar.
“Aqui nas aldeias, só se lhe trouxermos a covid para cá”, considerou Joaquim Rego, outro membro da mesa de voto, que vive na aldeia de Guadramil, onde trabalha com gado.
Outros membros trabalham na cidade de Bragança, a cerca de 25 quilómetros, como Idalina São Romão, que trabalha com crianças e está em casa com o encerramento das escolas.
As medidas de contenção da pandemia acabaram também com os momentos e eventos que iam mantendo o espírito comunitário da aldeia considerada uma das sete maravilhas de Portugal.
A última festa que tiveram foi há quase um ano, quando uma senhora com ligação familiar à aldeia pagou uma matança tradicional do porco em que os habitantes locais se encarregaram de mostrar como se fazia antigamente.
Ismael Fernandes e João Preto, os outros elementos da mesa de voto, corroboram que o facto de as pessoas não se poderem juntar “afeta muito” o espírito comunitário que sempre permaneceu entre a população.
A perda do turismo devido à pandemia não afetou tanto economicamente porque, como disseram, nunca foi a principal atividades destas gentes e ninguém vivia exclusivamente dele, numa aldeia onde a agricultura de subsistência continua a garantir que não falta o essencial.
Helena Fidalgo, da Agência Lusa, Fotos: António Pereira