O presidente da Câmara de Vila Real destacou hoje a “contradição gritante” entre as conclusões do inquérito ao incêndio num autocarro, dentro do Túnel do Marão, e as garantias de segurança assumidas publicamente por responsáveis políticos e a concessionária.
O socialista Rui Santos afirmou à agência Lusa que o relatório ao incidente, ocorrido em junho, dentro do túnel de 5.665 metros, inserido na Autoestrada 4 (A4), veio dar razão aos alertas que tem feito nos últimos oito meses.
“Antes do incidente, nós já alertávamos para a necessidade de testar os equipamentos de segurança, nunca foram testados, e para a necessidade de fazer simulacros que nunca foram feitos”, salientou.
O autarca sublinhou a “opção errada” da Infraestruturas de Portugal (IP) de retirar o centro de controlo do túnel, transferindo este serviço para a sua sede, em Almada, e diminuindo a “capacidade de resposta”.
“A sua reabertura é absolutamente clara no relatório. O posto de controlo também pode servir de posto de comandando em caso de acidente dentro do Túnel do Marão”, sublinhou.
Rui Santos sublinhou ainda a formação necessária para os bombeiros acionados para o túnel, bem como um reforço dos equipamentos.
Agora, afirmou, é “preciso implementar as conclusões que vêm no relatório”.
O documento, a que Lusa teve acesso, revela um “hiato temporal” de “36 minutos” entre o alerta inicial e o início do combate e aconselha uma revisão dos procedimentos para agilizar a chegada dos meios.
O relatório referiu ainda que é preciso “aperfeiçoar os procedimentos previstos em matéria de evacuação” e aponta situações caricatas como o número de telefone do contacto da IP estar errado no Plano de Intervenção da infraestrutura rodoviária.
“Não adianta ter razão antes do tempo, graças a Deus não aconteceu nenhum acidente com vítimas mortais, mas achamos que tudo isto se poderia ter evitado, tudo isto devia ter sido prevenido”, salientou.
Dois meses depois do incêndio no autocarro, ardeu também um carro ligeiro dentro do túnel. Nos dois casos não se registaram vítimas, contudo, a infraestrutura ficou fechada ao trânsito por diferentes períodos de tempo.
Rui Santos afirmou que, “durante muito tempo “foram desvalorizados” os seus alertas, nomeadamente por parte da IP, responsável pelo Túnel do Marão.
“A corte de Lisboa acha que sabe tudo, que manda em tudo e que tem sempre razão e é importante dizer que afinal a corte de Lisboa muitas vezes erra. Com este relatório fica comprovado que, quem está no terreno, conhece melhor a realidade e as necessidades”, sustentou.
Em despacho publicado na quinta-feira, em Diário da República, o Governo determinou precisamente a revisão “com urgência” e até “31 de março” dos planos de Emergência Interno do e de Intervenção no Túnel do Marão, ainda a elaboração de um Plano de Prevenção, e a posterior realização de um simulacro de incêndio.