Ainda Jorge Sampaio não tinha chegado ao recinto da festa e já alguns dos organizadores do encontro e outras personalidades estavam em cima do palco a cantar o hino nacional, na tentativa de acalmar a impaciência da comunidade portuguesa, que esperava visivelmente ansiosa pela chegada do chefe de Estado.
Um seu assessor para as comunidades subiu mesmo ao palco para incentivar os emigrantes. Com uma linguagem um tanto ou quanto popular e um ligeiro sotaque dos Açores.
"Dêem-lhe uma recepção calorosa, pá, com carinho, pá, com todo o amor de portugueses, pá, e de luso- canadianos, pá. E mais, façam-me chorar de alegria recebendo com a recepção que devem ao presidente, pá, são só mais seis minutos e ele está aí, pá", pedia insistentemente Nuno Botelho.
Sampaio chegou segundos depois. Os emigrantes e luso-descendentes encheram-no de aplausos ao mesmo tempo que abanavam freneticamente as bandeiras portuguesas. O primeiro-ministro da província de Ontário (que acompanhava Sampaio) foi, em contrapartida recebido com assobios quando iniciou o seu breve, mas apaziguador, discurso.
A euforia dos emigrantes portugueses de Toronto (no recinto estavam mais de dois mil) chegou de novo ao auge quando o Presidente da República decidiu chegar-se junto ao microfone para cantar com a comunidade portuguesa o hino de Portugal. E cantou-o todo, ainda que a voz lhe falhasse nas notas mais agudas ou nas mais graves.
O conteúdo do seu discurso não foi muito além dos que proferiu em anteriores encontros com outras comunidades - que a língua portuguesa "não é passado, não é saudade, não é recordação", é sim uma "qualificação" para os luso- canadianos enfrentarem o futuro, e que deve ser possível continuar a aprender português nas escolas canadianas".
Diferente foi a forma emotiva com que o Presidente da República falou à comunidade portuguesa, onde nem sequer um apelo às lágrimas faltou, quem sabe para não deixar que Nuno Botelho "pudesse ser o único" a chorar com a recepção da comunidade portuguesa de Toronto - a maior de todo o Canadá, estimada em cerca de 200 mil pessoas.
"Se não pudéssemos rir, estaríamos a chorar abraçados uns aos outros, é isto que vocês deram aos nossos corações", afirmou Sampaio, numa noite (madrugada de quarta- feira em Lisboa) em que a euforia, a animação e o espírito português de festa foram o prato forte.
Da probabilidade ao pedido concreto foi um passo. Perante o frenesim das bandeiras, das salvas de palmas e dos gritos de apoio, o Presidente da República acabou o seu discurso a pedir: "E agora podemos chorar em conjunto".



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