Os espargos selvagens são o mote de um novo festival do Nordeste Transmontano que promoveu hoje encontros familiares e passeios de domingo à aldeia de Santa Comba da Vilariça, apostada em aproveitar aquilo que a Natureza dá.

O que começou como uma brincadeira para angariar dinheiro para a festa da aldeia é agora assumido como uma aposta para valorizar um produto regional subaproveitado num festival anual com várias propostas gastronómicas à base de espargos.

A ementa abriu o apetite a 140 pessoas que rumaram à Vilariça, ao Festival dos Espargos Selvagens, que contribuiu para promover inclusive encontros familiares de alguns filhos da terra que se encontram fora da região.

Foi o caso de José Sousa Pinto, que viajou do Porto até à Vilariça, “sobretudo por causa da iniciativa”, que foi também pretexto para juntar a família.

“Quer pelos pratos, quer pelo ambiente, acho magnífico”, disse à Lusa.

Dado o número de aderentes a esta iniciativa, “teria sido preferível que tivesse sido no exterior, só que nesta altura do ano contingência do clima não dá para fazer”, como observou.

“Mas é excelente e sobretudo nesta zona ainda mais premente se torna este tipo de iniciativas porque é uma zona esquecida”, considerou.

Classificou de “soberbo” o prato inicial com omelete e pataniscas de espargos, mas garantiu que não comeu nada mau, incluindo a açorda ou o arroz de espargos ou as sobremesas, duas das quais inovações de doces com espargos desidratados.

José gostou da salada de laranja com azeite e alho, típica do concelho de Vila Flor, onde pertence a Vilariça, e confecionada com dois produtos regionais com peso económico, concretamente o azeite e a laranja.

Acúrcio Martins viajou de Torre de Moncorvo com um grupo de amigos para ir à terra natal da mulher, participar no festival, e ficou “satisfeitíssimo”.

Quem entusiasmou o grupo de três casais foi Virgílio Fernandes que achou “a ideia interessantíssima com um produto genuíno, muito diferente dos espargos comprados no supermercado”.

Virgílio lamenta os espargos selvagens não constem das ementas tradicionais e acredita que “seria uma mais-valia se os restaurantes da região apostassem neste produto”.

Com o grupo viajou de Mogadouro Mário Varanda que não conhecia os espargos selvagens.

“É uma especialidade sem dúvida. A ideia é ótima, é de ter continuação”, defendeu.

De mais longe, de Vila Real, chegou um grupo de 30 pessoas para provar os petiscos com espargos selvagens.

Também a aldeia está entusiasmada, com a jovem Edite Rego satisfeita por estarem a aproveitar aquilo que a Natureza dá e a garantir: “No que depender de nós, estamos aqui todos para continuar esta iniciativa e não a deixar morrer por aqui”.

Um dos contributos para este festival foi o de Hernâni Teixeira, que apanhou no campo a maior parte dos cerca de 30 quilos de espargos para a iniciativa.

Desde menino que apanha espargos e nota que, “nos últimos anos, há muita gente” a fazê-lo e até quem já apanhe para vender nas feiras”.

“É um produto que não custa dinheiro, mas é bem pago, dez euros o quilo”, apontou, afiançando que os espargos são “como o bacalhau - diz bem com tudo”.

Alerta, todavia, que há que ter cuidado na apanha, devido ao uso de herbicidas na agricultura que podem contaminar a planta, pelo que aconselha a procurar sobretudo em zonas com menos atividade agrícola.

Hernâni é membro da assembleia municipal e garantiu que “vai 'chatear' o presidente da Câmara já na próxima reunião de abril, para que esta iniciativa tenha 'pernas para andar', porque é uma coisa inédita”.

O presidente da Câmara de Vila Flor, Fernando Barros, afirmou estar empenhado no crescimento do evento, e fala já “numa tenda ou um pavilhão para o ano”, na próxima edição.

O autarca louva a iniciativa do grupo de pessoas que, com trabalho voluntário, levou avante esta iniciativa, desde a apanha dos espargos, à confeção e à preparação do espaço para servir os participantes.

Os organizadores são os elementos da Comissão de Festas de Santa Comba da Vilariça, que começou por organizar almoços para angariar dinheiro para a festa de verão, em agosto, e acabaram a organizar um festival.

Isabel Fontes faz parte do grupo e este ano teve de trabalhar mais do que no ano passado, quando lançaram a ideia.

“É muito trabalho, tudo feito na hora, falta gente para ajudar, nomeadamente para servir, mas estou muito satisfeita porque quando a gente faz uma coisa com gosto, e vê que as pessoas contentes, é muito bom”, partilhou com a Lusa.

Foto: Renato Neves



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