Fartas da seca, as gentes de Alfândega da Fé voltaram a pedir o milagre da chuva ao Divino Senhor da Barca. Para o efeito, realizaram uma procissão, que não se fazia há 14 anos, entre o santuário de Santo Antão da Barca, nas margens do rio Sabor, e a aldeia de Parada, a cerca de dez quilómetros.
Encosta acima, ao longo de um trajecto íngreme e sinuoso, em terra batida e com pedras, as populações de várias aldeias dirigiram as suas preces ao santo, rezando e entoando cânticos. Pediram chuva, que consideram bendita, e a salvação dos campos agrícolas e dos animais. \"Mandai-nos a água, Senhor\", entoavam em coro.
A fé estava estampada nos rostos dos crentes que aderiram ao apelo da Confraria dos Irmãos do Santo Antão da Barca, cuja fama de milagreiro é conhecida em todo o Nordeste. Foi essa fé que fez muitos esquecerem os males de que padecem, para cumprirem a caminhada. Alfredo Pereira, de 83 anos, não se deixou intimidar pelas dificuldades e juntou as forças ao apoio de uma bengala \"Há 73 anos que participo nas procissões, não era agora que ia ficar sem vir\".
Antigamente, havia procissão de sete em sete anos ou quando havia situações de grande seca. \"Sempre que foi feita fomos ouvidos, por isso cá vimos\", disse António Ribeiro, presidente da confraria. A procissão foi precedida de uma missa e de uma novena. O Divino Senhor da Barca e o anjo da guarda foram transportados em ombros para a aldeia, onde se juntou outra procissão, saindo da igreja com o andor da Senhora do Rosário, coberta com um manto preto em sinal de luto, e que levava também uma carta, que simbolizava o pedido de Maria, mãe de Jesus, ao filho, pedindo-lhe a graça da chuva.
Certo é que, no fim da procissão, o sol, que antes brilhava, foi sendo coberto por grandes nuvens escuras. Meia hora depois, já caíam alguns aguaceiros, mas ainda não os suficientes para reverter a situação. O pároco de Parada, Francisco Pimparelo, deixou bem claro, na homilia, que não se tratava de um rito mágico, mas de um acto de fé relacionado com uma necessidade prática.