São os pais que mandam fruta da época ou batatas e até pequenos mimos para as refeições das crianças na cantina da escola primária de Quintanilha, em Bragança, onde só não come o único aluno da aldeia.

Ao meio-dia e meia, enquanto os 14 colegas correm para a cantina à procura da refeição preparada pela Dona Laurinda, o Tiago tem de ir comer a casa. Porque não é transportado, fica deslocado, sendo o único dos meninos que não tem direito a comer de graça na escola, apesar de ser único aluno morador na aldeia. Os colegas são de localidades vizinhas que foram concentrados na escola de acolhimento de Quintanilha, no âmbito da reorganização da rede escolar.

\"Os transportados têm todos os direitos, mesmo que os pais tenham bons ordenados e ele não\", diz a mãe Luizete Sauana. \"Para comer na cantina, \"tinha de pagar sete contos (35 euros) por mês, para isso come aqui em casa\", acrescentou. Foi por esta e por outras que deixou de colaborar e fazer parte do espírito comunitário que alimenta a cantina desta escola, também ela obra antiga de um benemérito da aldeia, já anterior à concentração das escolas e onde antigamente comiam todas as crianças.

Todos os alunos da professora Marília Menezes já trouxeram alguma coisa para as refeições: figos, pepinos, batatas, cebolas. Na época das colheitas, os pais fazem chegar o que a terra dá. \"E assim pode-se dar uma refeição bastante melhorada às crianças e aquilo que geralmente não se come nas cantinas, aqui comem\", sublinha a professora.

Quem agradece é a cozinheira Laurinda Rodrigues, uma habitante da aldeia, que conta também com a ajuda dos professores que lhe aviam as encomendas, de carne, peixe e outros alimentos, na cidade. A D. Laurinda foi \"solução\" encontrada para poderem garantir as refeições às crianças numa aldeia sem alternativas para este serviço. \"Tentamos encontrar as soluções nos contextos locais\", explicam Emília Estevínho e Maria da Luz, do Conselho Executivo do Agrupamento Augusto Moreno, de que faz parte esta escola.

As dirigentes elogiam o caso de Quintanilha, que é também destacado pelo vice-presidente da Câmara de Bragança, Rui Caseiro, que para a exclusão do pequeno Tiago tem apenas a dizer que \"é o que legalmente está estabelecido\".

Já à cozinheira Laurinda ele promete que a Câmara pagará religiosamente desde que não se atrase com as facturas, a justificação dada para as queixas nos atrasos dos pagamentos. A cozinheira Laurinda recebe por refeição e diz que muitas vezes o que lhe vale é o contributo dos pais para ir equilibrando a despesa que tem de fazer do seu bolso até receber.

Mesmo com queixas e apesar de \"serem muito barulhentos\", não conseguia viver sem os meninos. \"A gente habitua-se a eles\", diz, principalmente numa aldeia onde nem a concentração conseguiu juntar as 50 crianças que frequentavam esta escola no tempo da D. Laurinda.



PARTILHAR:

Conquistar o maior número de Câmaras

Assinatura do contrato em Novembro