Os produtores transmontanos estão a contar com quebras entre os 40 e os 60% na produção de castanha. Os soutos mais afectados são os dos concelhos de Bragança e Vinhais.
A seca está na origem do mau ano agrícola, o que não significa que a rentabilidade venha a ser baixa, porque a diminuição da produção tenderá a fazer disparar o preço do produto.
\"O fraco calibre pode contribuir para que os consumidores tenham pouca apetência pelo fruto\", receia Armando Bento, da Monteval-Associação para o Desenvolvimento Agrícola e Rural da Terra Fria.
A zona de Trás-os-Montes e Alto Douro, que neste caso abrange também a área de produção dos Soutos da Lapa (norte do distrito de Viseu) corresponde, no total, a cerca de 16 mil explorações, 30 mil hectares e cerca de 35 mil toneladas por ano.
Naquele espaço concentram-se três das quatro denominações de origem protegida Terra Fria (Bragança), Serra da Padrela (Carrazedo de Montenegro, Valpaços) e Soutos da Lapa (Sernancelhe, Penedono, Trancoso e outros concelhos). Juntas representam mais de 90% da produção nacional. A quarta denominação de origem é de Marvão, Portalegre.
Já em Carrazedo de Montenegro, um dos maiores comerciantes, Dinis Pereira, fala de \"uma quebra a rondar os 30%, mas de uma qualidade extraordinária\". E sublinha \"Por causa da seca, a maioria dos ouriços só vingou um ou dois frutos, em vez dos habituais três. Com estas chuvas, os frutos que ficaram acabaram por crescer mais\".
Uma situação também verificada na zona dos Soutos da Lapa onde, segundo Luís Alves, gestor financeiro da Frusantos, \"a quebra ronda os 30%, e os preços ao produtor já subiram entre 15 a 20%, para 1,80 euros o quilograma\".
A castanha é, sobretudo, comercializada fresca e a transformação ainda não é representativa, apesar de existir uma fábrica em Bragança onde se faz transformação do produto, essencialmente, em congelados e conservas, que se destinam ao mercado francês.
Actualmente, a castanha movimenta na região valores na ordem dos 12,5 milhões de euros, é o sector mais rentável e a garantia financeira de muitas famílias.
A castanha é o único produto de origem vegetal que tem potencialidades para ser produzido, vendido e exportado, situação com especial impacto na zona da Terra Fria.
A área de produção está a aumentar, até porque os agricultores não têm alternativa à ocupação do solo.
Nas previsões do Instituto Nacional de Estatística (INE), ontem divulgadas, a quebra na produção de castanha, a nível nacional, não será tão forte, ficando-se por uma redução na ordem dos 20%, ou de 22%, face à média dos últimos cinco anos.
Menos vinho
Os apreciadores de castanhas que não dispensam um bom vinho a acompanhá-las, não terão melhor sorte este ano. Além de uma menor oferta de fruto, o vinho da presente colheita também é menos em relação ao ano passado.
O INE confirmou ontem uma quebra de 20% face a 2004 (e de 17% face à média dos últimos cinco anos), colocando a produção nos 576,5 milhões de litros, um número muito próximo do avançado no final de Agosto pelo Instituto da Vinha e do Vinho, que era de 600 milhões de litros.
A produção agora divulgada é a mais baixa desde 1998/99, quando se situou nos 375 milhões de litros. \"O agravamento da situação de seca associado às elevadas temperaturas levou à desidratação dos cachos, com consequências no volume de produção\", lê-se no Boletim de Setembro do INE.
Para os produtores, o cenário de quebra na produção tem um lado positivo, na medida em que, em certas regiões, existe uma grande quantidade de vinho em stock. A expectativa é ver esse recuo na oferta contribuir para valorizar o produto no mercado, embora haja alertas no sentido de demover os produtores de subirem os preços, sobretudo os da exportação, sob pena de verem cair ainda mais as vendas.
Já quanto à qualidade do vinho da presente campanha, os peritos manifestam opiniões diversas, desde logo, pelo desconhecimento do efeito nos vinhos das condições climatéricas extremas que o país tem vindo a atravessar desde há um ano, preferindo aguardar uns seis meses para fazer essa avaliação.