Um abutre-preto (Aegypius monachus) vítima de um tiro na asa e que passou por um processo de recuperação durante meses foi devolvido à natureza esta quarta-feira, 10 de agosto, no Miradouro do Carrascalinho, situado em Fornos, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, em pleno Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), no distrito de Bragança, informou a Palombar em comunicado.

Segundo a mesma fonte, esta ave, que é o maior dos abutres europeus e está em risco de extinção no território nacional, é a segunda desta espécie proveniente do Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (CRAS-UTAD) a receber um dispositivo GPS para monitorização no âmbito do projeto “LIFE Aegypius return – consolidação e expansão da população de abutre-preto em Portugal e no oeste de Espanha”.


O abutre foi resgatado no dia 21 de outubro de 2022 pela equipa do Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Gerês (CRFS), gerido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

A ave apresentava uma asa fraturada na sequência de um disparo a tiro. “As aves necrófagas de que é exemplo o abutre-preto desempenham um papel relevante no ecossistema porque consomem cadáveres de animais mortos, evitando assim a propagação de doenças contagiosas. No entanto, o abutre-preto está criticamente em perigo por apresentar uma população extremamente reduzida, razão pela qual o ICNF acompanha este projeto procurando que venha a atingir os objetivos a que se propôs, envolvendo para isso diversos técnicos e vigilantes da natureza”, referiu Sandra Sarmento, Diretora Regional da Conservação da Natureza e Florestas, citada em comunicado.

Posteriormente, a ave foi transportada para o CRAS-UTAD, onde foi submetida a uma cirurgia ortopédica e a tratamento de suporte. “O exame radiográfico mostrou a presença de vários chumbos na asa ferida, confirmando assim a causa de ingresso. O abutre respondeu muito bem ao tratamento, ficando a fratura resolvida no tempo que seria expectável. No entanto, a perda de algumas das penas secundárias, essenciais para um voo eficiente, fez prolongar a sua estadia no centro de recuperação. Teve de aguardar pelo crescimento de novas penas saudáveis”, explicou Filipa Loureiro, médica veterinária do CRAS-UTAD. Os meses de recuperação incluíram também fisioterapia e reabilitação motora.

Mais tarde, o abutre foi transferido para o Centro de Interpretação Ambiental e Recuperação Animal (CIARA), em Felgar, Torre de Moncorvo, onde permaneceu num grande túnel de voo, até recuperar a forma física e conseguir voar. A ave “recuperou em pleno e foi agora devolvida à natureza no Parque Natural do Douro Internacional, uma área vital para esta espécie, onde a recolonização por casais está em curso desde 2012, mas ainda é muito frágil”. No final de 2022, o seu núcleo reprodutor contava com apenas dois casais. Já durante a primavera de 2023, a organização não governamental de ambiente Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural registou a construção de um terceiro ninho por um casal da espécie cujo sucesso reprodutor ainda está por confirmar.

Informação fornecida pelo GPS é fundamental para a conservação e proteção da espécie

 Antes de ser libertado, este abutre-preto foi equipado com um dispositivo GPS fornecido pelo projeto LIFE Aegypius return, o que é fundamental para assegurar a sua monitorização e aferir sobre o sucesso da sua readaptação ao meio natural. A equipa do projeto vai agora garantir o seguimento continuado desta ave necrófaga para obter informações essenciais para a sua conservação, nomeadamente sobre os seus movimentos, comportamento, longevidade, ameaças e dieta.

“Esta ave em risco de extinção foi salva e teve a oportunidade de regressar à natureza numa área protegida com condições favoráveis para a espécie graças ao trabalho conjunto desenvolvido por todas as entidades envolvidas na sua recuperação”, sublinhou Iván Gutiérrez, biólogo da Palombar, destacando a importância da colocação do dispositivo GPS no abutre para garantir a sua monitorização.

O evento de devolução à natureza deste abutre contou com a presença da equipa do projeto e membros das várias entidades envolvidas no seu resgate, recuperação e monitorização, nomeadamente do CRAS-UTAD, do CRFS, do ICNF, do CIARA e ainda com Vigilantes da Natureza do ICNF no Parque Natural do Douro Internacional.

O abutre-preto extinguiu-se como nidificante em Portugal no início da década de 70. No entanto, a espécie manteve-se presente na faixa fronteiriça das regiões centro e sul, com indivíduos provenientes de Espanha. Só em 2010 o abutre-preto voltou a nidificar em Portugal, no Parque Natural do Tejo Internacional. Em 2012, registou-se o primeiro casal nidificante no Parque Natural do Douro Internacional e, em 2019, o segundo. Esta espécie só tem uma cria por época de reprodução, o que a torna mais vulnerável.

Foto: Palombar



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