Oitenta mil pessoas juntaram-se, este domingo, em Mouçós, para assistir à procissão em honra da Senhora da Pena. E para ver de perto o andor, de três toneladas, candidato a entrar no livro dos recordes, o «Guinness».
Quando o gigante se ergueu a pique, a apontar o céu, os milhares de fiéis que se apinhavam à volta do santuário bateram palmas de forma estrondosa. Um sinal de júbilo, que contrastou com o esforço, quase desumano, estampado no rosto dos homens, de todas as idades, que tinham sobre os seus ombros o peso de uma tradição que se perde no tempo na aldeia de Mouçós, a cerca de três quilómetros da cidade de Vila Real.
O andor, um dos 17, de vários tamanhos, que integrou a secular procissão em honra da Nossa Senhora da Pena, foi construído com uma altura de 22,20 metros, entre outras características singulares, a pensar numa inscrição no livro de recordes mundiais (Guinness Book of Records).
\"O ano passado não tivemos sorte. No fim da procissão, quando chegou o momento de os homens que suportavam os andores os agitarem numa dança de festa, como sucede todos os anos, a coroa daquele que tinha uma altura de 22 metros caiu, reduzindo-o significativamente\", explicou, ao Jornal de Notícias, o armador Joaquim Fernandes.
O desaire não esmoreceu a comissão das festas da Senhora da Pena. \"Este ano recebi instruções para fazer um andor com mais 20 centímetros. Temos esperança que esta construção, verdadeiramente colossal, não tenha concorrente no livro de recordes e possa ser finalmente inscrita como a maior do mundo\", acrescentou Joaquim Fernandes.
Os andores são uma das principais atracções da procissão que todos os anos se repete na aldeia no segundo domingo de Setembro.
A organização anual das festas da Senhora da Pena, que associam o religioso e o profano, é assumida de forma rotativa por 11 das 18 aldeias da freguesia de Mouçós. Este ano foi a vez de Sanguinhedo.
\"Toda a população, cerca de 400 pessoas, começou a preparar a edição deste ano em Agosto de 2007. Foram dias e noites a fio a programar tudo para que nada corresse mal\", confessou Hugo Letra, da comissão de festas de Sanguinhedo.
Os números que envolvem estas festas anuais são sempre, pela sua grandiosidade, uma bandeira para os que têm a seu cargo a responsabilidade de fazer melhor do que a equipa antecedente.
\"A devoção à Senhora da Pena perde-se no tempo. Rezam os livros, que as primeiras referências datam de meados do século XVIII. Mas só há pouco mais de 50 anos é que começou a assistir-se ao despique na armação dos andores\", relatou José Fraga, um habitante de Mouçós.
Quando se fala em despique, é inevitável dizer que o andor candidato ao guiness, porta estandarte da imagem da Senhora da Pena, é construído com 2500 parafusos, não leva um único prego, e as centenas de metros de cetim colorido que o embelezam são acolchoados à estrutura em madeira por 40 quilos de alfinetes.
São necessárias quase duas horas para o cortejo, com centenas de figurantes, fazer um percurso de um quilómetro e meio à volta do santuário.
O momento é vivido com profunda emoção por milhares de pessoas que cumprem promessas e deixam donativos. Dinheiro que, no próximo ano, ajudará a manter viva uma tradição secular.