Chegou o dia. A capital do misticismo celebra a primeira "Sexta 13" do ano (há uma outra em dezembro). Quase um ano volvido, está de regresso o maior espetáculo de rua de Portugal. Milhares de pessoas são aguardadas na capital do misticismo. Esperamos por si.
MONTALEGRE ("SEXTA 13") | NORMAS PARA PARTICIPAÇÃO E ATRIBUIÇÃO DE ESPAÇO PÚBLICO NO EVENTO "SEXTA 13 – NOITE DAS BRUXAS"
Poucas festas em Portugal conseguem, de modo tão afirmativo e unânime, associar a cultura popular aos desafios da contemporaneidade. A "Sexta 13 – Noite das Bruxas" de Montalegre constitui, provavelmente, o mais disseminado exemplo da reinvenção das tradições populares de Trás-os-Montes. A sua essência reside nos serões tradicionais de Barroso, espaço onde o fiadeiro de contos e estórias do arco-da-velha preenchiam as longas noites de invernia. Contos e lendas, magia e superstição, trocadilhos e lengalengas eram partilhados com os mais novos, resultando num processo de transmissão da sabedoria e cultura popular de Barroso, hoje em processo de recuperação.
PADRE FONTES - MENTOR
Parte desta tradição oral, sobretudo ligada à superstição e ao fantástico, foi recuperada pelo Padre Fontes no início da década de 1980, por intermédio do Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes e, posteriormente, transposta para os restaurantes e espaços públicos de Montalegre dando origem à "Sexta 13 – Noite das Bruxas". A longevidade da "Sexta 13", associada à sua permanente reinvenção, preconiza a natureza agregadora e fraterna das grandes celebrações transmontanas. Elementos estruturantes do evento são a superstição e o misticismo, que tornam a festa um fenómeno de exaltação social e contexto de celebração pública, mas principalmente, um curioso sentimento de afrontação a todas as formas dogmáticas de olhar a vida, moldam a sua matriz identitária.
NÚMERO 13
Assente na superstição ligada, por um lado ao número 13 onde, como refere o padre Fontes «os dias 13 são de azar, assim como o número 13. Estando 13 pessoas à mesa, uma delas morre. É preciso pôr, nem que seja uma criança, ou sair um dos comensais» e, por outro, à sexta-feira em que «às terças e sextas nem urdas a teia, nem cases a filha», o evento eleva a cultura galaico-barrosã ao patamar de grande festa popular.
IRMANDADE GALEGA
A relação com a Galiza é umbilical, plasmada na récita do esconjuro, poema/feitiço com raízes do outro lado da "fronteira viva", onde o misticismo e a superstição desempenham um papel semelhante no imaginário coletivo. O magnífico espetáculo de teatro, que conquista por uma noite o Castelo de Montalegre e o centro histórico de Montalegre, é realizado tendo por base contos e lendas ancestrais de Barroso e da Galiza e protagonizado por companhias teatrais de ambos os lados da raia. A economia local e regional é fortemente envolvida. A hotelaria da região – desde Braga a Chaves – esgota para o evento. Na restauração, a gastronomia tradicional de Barroso revela-se aos visitantes: o fumeiro de Montalegre, o "Cozido à Barrosã" e a cozinha temática são um dos pontos altos da "Sexta 13 – Noite das Bruxas".