Investigadores da Universidade de Vigo, em Espanha, estão a realizar, "pela primeira vez", um estudo "abrangente" sobre o estado da língua mirandesa e, numa fase ainda "preliminar", alertam para a "insuficiência" do ensino, quanto à manutenção futura do idioma.

"A nossa primeira impressão é que o ensino do mirandês, que atualmente se está a oferecer nas escolas do concelho, é insuficiente. Os alunos que não aprendam o mirandês em casa, têm um conhecimento praticamente nulo desta língua", revelou hoje à Lusa o professor do departamento de Filologia Portuguesa e Galega da Universidade de Vigo (UV), Xosé Costas.

Para chegar a esta conclusão, ao longo dos últimos três dias, uma equipa de alunos da UV, designada por "Brigada da la Léngua" (Brigada da Língua), composta por seis equipas de dois elementos, percorreu o concelho de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, onde foram realizados cerca de 350 inquéritos à população residente e estudantil que começaram por mostrar alguns sinais "preocupantes" sobre o estado da segunda língua oficial em Portugal.

"Os alunos até podem aprender a escrever o mirandês, mas não têm o conhecimento da língua. Os inquéritos realizados neste estudo inédito e abrangente revelaram que a aprendizagem escolar da língua mirandesa é praticante nula e os alunos não se sentem cómodos, como utilizadores de uma língua em que se possam expressar com naturalidade", indicou o especialista galego.

Segundo Xosé Costas, foi uma "surpresa" verificar que os alunos que estudam língua mirandesa têm um conhecimento "praticamente nulo do idioma".

Para o especialista em Filologia Portuguesa e Galega, o que faz falta é "uma política de valorização do mirandês", e dotar o idioma de elementos de "prestígio" que ainda não tem.

"Se nada for feito, de futuro, para fomentar o desenvolvimento da língua mirandesa, esta pode estar morta dentro de uma geração", frisou o investigador.

O grupo de investigadores contou à Lusa que, na parte norte do concelho de Miranda do Douro, o mirandês "está vivo" devido ao uso que é feito pela população mais idosa. Já na zona sul deste território, "é uma língua menos usada".

"Na cidade de Miranda do Douro, nota-se falta de conhecimento e muito pouco uso da língua mirandesa por parte da população", verificou Xosé Costas.

Outra das conclusões preliminares deste estudo, porém, é que a população do concelho transmontano gostaria de ter acesso a mais publicações bilingues, e que o mirandês fosse utilizado em serviço públicos.

Todos os dados recolhidos pela "Brigada da la Léngua", que vão desde a análise da tradição oral até aos conhecimentos adquiridos pelos inquiridos, ou o seu uso no meio social, serão compilados e estudados pela UV, através de um programa informático, desenhado para esta investigação académica, e os resultados serão publicados.

A Associação de Língua e Cultura Mirandesa (ALCM) é parceira neste estudo e o seu representante, Alcides Meirinhos, adiantou que nunca se tinha feito um levantamento desta natureza, para se verificar o estado da língua mirandesa.

"Não sabemos quantas pessoas falam a língua mirandesa e qual é a competência de cada falante", vincou.

O objetivo da ACLM foi estabelecer uma pareceria com a UV, de forma a compreender o estado atual da língua mirandesa.

"Só a partir do momento em que haja dado concretos e cientificamente avalizados é que podemos tomar medidas tendentes a que o mirandês continue a ser a nossa língua", vincou o Alcides Meirinhos.

O responsável disse ainda que este estudo, tido como inédito, vai desde o início ao encontro da população, ao contrário de outros estudos académicos, feitos nos gabinetes das universidades.

Umas das alunas do último ano de Filologia Galega, Sol Vilas, que participa na elaboração do estudo, disse que é importante conhecer o real estado do mirandês, porque se trata de uma língua menorizada.

"Há muitas pessoas que falam mirandês, mas não é uma língua valorizada. O escalão etário que mais utiliza o mirandês [corresponde aos] mais idosos. Os mais jovens estudam o mirandês, contudo, não o utilizam no dia-a-dia", constatou a estudante finalista.

Já Aicha Villaverde, também estudante de Filologia Galega, vincou que sua participação neste estudo lhe deu a conhecer uma nova realidade linguística.

"A situação do mirandês parece-me que é a mesma do galego. Os jovens não se motivam, porque a língua não é oficial, nas escolas", vincou.

A língua mirandesa é uma língua oficial de Portugal desde 29 de janeiro de 1999, data em que foi publicada em Diário da República a lei que reconheceu oficialmente os direitos linguísticos da comunidade mirandesa.



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