Olímpia do Carmo é acusada de se ter ausentado do hospital de Mirandela, no dia em que estava de serviço, em presença física, durante cerca de quatro horas (entre as 17 e as 21 horas) quando decorria o trabalho de parto.
Ontem, na primeira sessão do julgamento, negou ao colectivo de juízes do tribunal de Mirandela que tenha sido esse o período de ausência. \"Sai do hospital cerca das 20 horas e avisei pessoalmente uma das enfermeiras especialistas\", alegando que entre as 17 e as 20 horas esteve no Serviço de Internamento daquela unidade de saúde.
A obstetra, de 51 anos, diz ter sido contactada, via telefone, pela anestesista de serviço, cerca das 17 horas, a questionar se havia alguma contra-indicação para aplicar a epidural na parturiente Isabel Bragada. \"Respondi que não\", disse, em tribunal.
Confirma que recebeu outro telefonema, cerca das 20.30 horas, da enfermeira Maria de Jesus, mas desmente que lhe tenha sido \"pedido com insistência para se deslocar ao hospital que precisava da sua ajuda\", como refere o despacho de pronúncia.
Olímpia do Carmo diz que nunca lhe foi solicitada a presença: \"Foi-me transmitido que os registos cardiotacográficos estavam normais\", acrescentou.
A obstetra afirmou ao colectivo de juízes que só no telefonema que recebeu, cerca das 21 horas, é que foi comunicado que a parturiente \"já estava no período expulsivo, mas havia ineficácia de esforços maternos\", explica. Depois, compareceu na sala de partos, demorando apenas \"dois ou três minutos a chegar\" e aplicou a ventosa, vindo o Gonçalo Damasceno a nascer às 21.10 horas.
\"Prática normal\"
Apesar de admitir, em tribunal, que se ausentou do hospital quando estava em regime de presença física (alegando que se tratava de uma prática normal nos profissionais de saúde que tivessem residência próximo do hospital, em períodos de almoço e de jantar), a obstetra considera que \"caso estivesse presente, o parto poderia ter o mesmo desfecho\", explicou.
\"O parto ocorreu com o bebé sem agonia fetal, porque respirava através da placenta da mãe\" e, apesar da acusação referir que o feto esteve encravado, a médica diz que essa situação \"é considerada normal se acontecer entre 45 e 60 minutos\" e esse cenário \"só aconteceu durante sete minutos\", acrescenta.
Ontem, só foi ouvida a obstetra e o pai da criança. O julgamento já tem mais três sessões agendadas para 3, 10 e 17 de Maio, nas quais serão ouvidas cerca de duas dezenas de testemunhas arroladas ao processo.
A mãe da criança espera a condenação da obstetra, acrescentando que, \"nesta fase, ainda não há pedido de indemnização porque se aguarda pelo resultado do julgamento. Expectativa contrária tem o advogado da obstetra.