«Ai! Meu Deus, ai Meu Deus!». Uma mulher de meia idade pedia ao Criador que a salvasse da investida dos caretos de Podence. Foi ontem à tarde, durante mais um Carnaval, naquela localidade de Macedo de Cavaleiros, que prima por manter a tradição.

Caretos e facanitos (caretos mais novos) percorreram as ruas da aldeia para chocalhar as raparigas solteiras, mas, de passagem, chocalhavam também as outras.

Maria Augusta Teixeira viu-se acossada por um, ao mesmo tempo que lhe pedia \"Devagar, devagar, que ando constipada e dói-me tudo\". Surpresa.

O careto era o marido, 67 anos, 50 deles a vestir-se como tal. \"Antigamente, só tocávamos nas raparigas solteiras, agora é tudo a eito\", (risos). Só que, dantes, havia uma duzia de caretos, hoje, são cerca de 50. E continua a incentivar-se o aparecimento dos facanitos. Carlos Torres, seis anos, vive em Mirandela, mas, este ano, quis ir à terra da mãe estrear-se como facanito. \"Está a ser muito fixe\", confessou.

A festa continuou até altas horas. Os caretos chocalhavam as mulheres e entravam nas adegas para matar a sede. A tradição é assim e todos querem mantê-la, apesar de ser difícil.

O presidente da Casa do Careto, António Carneiro, contabilizou 800 forasteiros em Podence a ver e participar no Entrudo. O funeral do Pai da Fartura, em Carrazeda de Ansiães, também pretende assumir-se como uma tradição carnavalesca, a salvo das influências brasileiras. O número de público tem aumentado, a fim de ver julgar e rebentar o boneco que simboliza os azares de 2004.



PARTILHAR:

Rui Vilarinho

Provável envenenamento