O homem suspeito de ter atropelado mortalmente um septuagenário, em Chaves, negou hoje, no início do julgamento em Vila Real, ter visto a vítima na berma da estrada, afirmando que apenas sentiu um choque, mas não parou.
O arguido está acusado pelo Ministério Público (MP) de um crime de homicídio qualificado, tendo agido, segundo a acusação, com “o intuito de se vingar da vítima por esta ter instaurado contra si uma ação judicial na qual haviam sido apreendidos os dois tratores” do suspeito.
No início do julgamento, no Tribunal de Vila Real, o homem de 68 anos disse ao coletivo de juízes que não viu ninguém, que apenas sentiu um choque no lado direito do carro, mas não parou a viatura.
O caso aconteceu a 06 de janeiro de 2023 e, de acordo com a acusação, o arguido “encontrando-se ao volante de um veículo automóvel e ao avistar a vítima que se encontrava apeada junto a um outro veículo automóvel, fez com que o veículo por si conduzido embatesse no corpo da vítima”.
Após o embate, o suspeito “prosseguiu a sua marcha, entalando a vítima entre os dois veículos automóveis, projetando-a cerca de três metros”, tendo, de seguida, “acelerado o veículo que conduzia pondo-se em fuga”.
O arguido, que reconheceu ter problemas de audição, repetiu por diversas vezes que não viu ninguém, que sentiu um choque, mas alegou ter pensado que embateu num caixote do lixo que se encontrava na berma da estrada.
Referiu ainda que, depois de ter parado o carro, foi trabalhar, sem ter ido verificar se havia algum dano na viatura.
Contou que soube do atropelamento por um vizinho e que, depois de ter sido confrontado pela PSP, disse não saber de nada e ter vendido, um ou dois dias depois, o carro a um sucateiro.
Durante o julgamento, a presidente do coletivo de juízes confrontou o suspeito com algumas incongruências no seu depoimento, como o facto de este dizer que o carro já estava destinado à sucata, mas ter ido com ele à oficina uns dias antes.
No dia do alegado crime, imagens de videovigilância mostram o carro do arguido a cruzar-se com o da vítima na zona de Vilar de Nantes, tendo o suspeito feito inversão de marcha.
O arguido alegou que voltou para trás porque se apercebeu que não tinha o cartão para ir comprar gasóleo e que estava um dia de nevoeiro, embora a acusação refira que estava um dia com boas condições de visibilidade.
Foi, segundo a acusação, após a inversão de marcha que aconteceu o atropelamento.
O MP referiu que, em consequência do embate, “a vítima sofreu graves lesões em diversas partes do corpo, nomeadamente pélvicas que foram causa direta da morte”.
A vítima tinha 78 anos e acabou por morrer no hospital.
De acordo com a acusação, o caso estará relacionado com uma ação judicial, instaurada pela vítima contra o arguido em 1996, para pagamento de uma dívida, e, na sequência da qual, em 1997 foram penhorados dois tratores ao arguido.
Segundo o MP, esta ação terminou em dezembro de 1997 com o pagamento por parte do arguido da quantia em dívida, tendo sido ordenado o levantamento da apreensão dos referidos tratores.
Questionado hoje sobre esta contenda, o arguido disse nunca mais ter visto a vítima, nem sequer se cruzado com ela e que nunca mais tiveram problemas um com o outro.
O arguido encontra-se em prisão preventiva. Após o atropelamento, a PSP de Chaves tomou conta da ocorrência e a investigação transitou, depois, para o Departamento de Investigação Criminal de Vila Real da PJ.