O Teatro Experimental Flaviense (TEF) vai comemorar o dia mundial dedicado a esta actividade em Ansião, no concelho de Pombal, distrito de Leiria, onde irá apresentar a peça «A Excomungada», de Bernardo Santareno. Talvez se possa aplicar a esta companhia de teatro amador o provérbio «santos da casa não fazem milagres», uma vez que actua mais noutras localidades do país do que na cidade que a viu nascer, há 23 anos.

Desde 1997, altura em que o TEF se mudou para as actuais instalações, no Largo do Monumento, que a sua actividade «estabilizou». Até aí, os seus cerca de 25 elementos andaram em peregrinação por vários locais, trabalhando sempre em condições precárias. O novo espaço, baptizado com o nome de Cine-Teatro Bento Martins, fundador e impulsionador do grupo, permitiu ao TEF ganhar um novo fÎlego e realizar muitas iniciativas que antes seriam impensáveis. No entanto, a aquisição do imóvel, que foi alvo de melhorias em Novembro de 2000, só foi possível através da contracção de um empréstimo, cujas prestações o grupo só acabará de pagar em 2007. E a manutenção do espaço está orçada em 2.500 euros mensais, apesar de todo o trabalho dos elementos do TEF, à excepção da parte administrativa, ser voluntário. Desde os actores aos técnicos de luz e de som, passando pela confecção dos figurinos e pela concepção dos cenários, na altura de montar uma peça a única remuneração é a do encenador, que normalmente vem de Lisboa. Isto porque o TEF prefere apostar na «qualidade» do trabalho que apresenta ao público. Tem sido ela que, segundo o director do grupo, Rufino Martins, tem garantido «casa cheia» em Chaves e múltiplos convites para actuar em todo o país, onde diz receber «aplausos e elogios». A comprová-lo estão os espectáculos realizados e os que estão em agenda para este ano. Por exemplo, a nova peça «As sobrinhas», de Jaime Salazar Sampaio, que neste momento está a ser ensaiada por Carlos Martins, e que deverá estrear no final de Abril ou início de Maio, já foi solicitada para ser apresentada em Braga. E a 12 de Abril o grupo irá participar no XIX Festival de Tea-tro Amador de Valbom, em Gondomar.

Além disso, o TEF está a organizar a II Mostra de Teatro Escolar, que arranca a 8 de Maio e, até ao final do ano lectivo, irá percorrer as várias escolas do concelho, para «estimular a criatividade» dos mais novos. A «Hora do Conto», que leva elementos do grupo a contar histórias às crianças na Biblioteca Municipal é outra das suas iniciativas, que tem como objectivo «não só divertir, mas criar nos mais pequenos o gosto pela leitura, através de uma actividade lúdica, didáctica e pedagógica».

Em colaboração com a Escola Profissional de Chaves, o TEF também colabora anualmente na montagem de uma peça interpretada por alunos estagiários do curso de animação social e cultural. Neste momento está a ser preparada a apresentação do «Auto da Índia», que terá lugar em diversas escolas secundárias.

A juntar a tudo isto, o TEF é ainda responsável pela projecção regular de cinema e pela edição da revista «Teatrando», que dá a conhecer todo este seu trabalho. Além disso, quando é possível, são realizados cursos de formação teatral, abertos a toda a população, como já aconteceu em 2000. E muitos flavienses recordam a reconstituição da presença dos romanos em Chaves, que decorreu há dois anos, na qual o grupo colaborou.

Financiamento condiciona actividade

Em 2005, o TEF vai comemorar 25 anos. A data já está a ser preparada pelo grupo, que a pretende assinalar através de um conjunto de iniciativas como espectáculos, exposições, conferências e a apresentação de uma monografia.

As iniciativas desenvolvidas pelo Teatro Experimental Fla- viense contam com o apoio do Ministério da Cultura, do Inatel, do Governo Civil de Vila Real, da Região de Turismo do Alto Tâmega e Barroso, da Câmara Municipal de Chaves e da Associação de Desenvolvimento da Região do Alto Tâmega (ADRAT). Esse apoio é não só financeiro, mas também ao nível da divulgação do trabalho do grupo.

Financeiramente, o TEF é subsidiado mediante a apresentação prévia de uma candidatura que pode ou não ser aprovada. Ou seja, não lhe é atribuída uma verba fixa anual para depois ser utilizada, mas sim uma quantia específica tendo em conta as actividades a realizar. Rufino Martins concorda com este sistema. Mas lamenta ainda não ter conseguido apoio para aquela que é a \\"grande ambição\\" do grupo: apresentar regularmente teatro em Chaves, tal como acontece com o cinema. A projecção de filmes acontece todos os fins-de-semana, mas o director do TEF ficaria \\"muito satisfeito\\" houvesse teatro \\"pelo menos uma vez por mês\\".

Rufino Martins recorda que o grupo já fez tentativas nesse sentido. Mas reconhece que o TEF não consegue levar essa tarefa a cabo sozinho. \\"Não fica muito caro concretizar esta nossa ambição, mas precisamos de garantias para o poder fazer\\", explica o director do grupo.\\"Temos meios materiais e humanos, mas faltam-nos recursos financeiros, porque a cobrança de bilhetes não é suficiente para cobrir os custos com a deslocação de outras companhias de teatro a Chaves\\", acrescenta, garantindo que já tentou pedir apoio à Câmara Municipal de Chaves e à Delegação Regional do Norte do Ministério da Cultura, mas sem resposta. \\"Falamos, mas nada se concretiza\\", lamenta Rufino Martins, criticando o facto dos formulários de candidatura a subsídios do organismo governamental incluírem o apoio à criação, à formação, à divulgação e à cultura popular, mas terem esquecido a representação.

\\"Devia haver mais diálogo entre o TEF, a Câmara de Chaves e a Delegação Regional de Cultura, para se tentar estabelecer um compromisso\\", defende o dirigente. Um papel que a autarquia já se mostrou disponível para assumir. O presidente da Câmara, João Batista salienta que neste momento o TEF é a única companhia que apoia e que pretende continuar a fazê-lo em moldes mais alargados.

Até lá, o Cine-Teatro Bento Martins vai continuar a ser \\"uma casa cultural dinâmica, que se oferece ao concelho\\", mas com uma \\"divisão\\" por ocupar.



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