Os ciganos em Trás-os-Montes continuam a ser vítimas de \"exclusão\", \"preconceitos\" e a ser \"estigmatizados\" pela população maioritária, disse hoje à agência Lusa a investigadora Lurdes Nicolau, que trabalha há vários anos com esta etnia.

Lurdes Nicolau apresenta segunda-feira, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a tese de doutoramento \"Ciganos e não ciganos em Trás-os-Montes: Investigação de um impasse inter étnico\". Hoje assinala-se o Dia Nacional do Cigano.

Como professora, começou a trabalhar com esta etnia em Espanha em 2002, iniciando depois, em 2005, o trabalho de campo para esta tese e que se desenvolveu no concelho de Bragança, em três bairros da cidade e em seis localidades do meio rural.

Para além de conhecer o grupo étnico cigano que reside na região, o estudo tinha também como objetivo compreender a interação que o mesmo estabeleceu com a população maioritária tanto no meio urbano como rural, bem como no contexto escolar.

Lurdes Nicolau concluiu que os ciganos residentes na cidade \"são objetivamente marcados pela exclusão que se materializa na falta de condições de habitação, emprego, educação em diversas situações no seu quotidiano\".

No meio rural, em geral, as \"condições de habitabilidade são precárias e, em cada uma das localidades, desenvolveram-se interações específicas com os não ciganos\".

Enquanto, segundo a professora, nalgumas povoações o contacto entre ambos se cinge ao mínimo, noutras existe uma interação positiva, o que se evidencia através de \"um número significativo de casamentos mistos e nas dinâmicas estabelecidas entre ambos\". Nomeadamente, explicou, pelo facto de os ciganos assegurarem trabalhos agrícolas.

\"No entanto, em todos os contextos estudados, com maior ou menor intensidade, os ciganos continuam a ser vítimas de preconceitos e a ser estigmatizados pelos não ciganos\", afirmou.

No concelho de Bragança, existem cerca de 130 famílias desta etnia, com cerca de 500 indivíduos. Deste total, cerca de 30 famílias são mistas, ou seja, resultam de casamentos entre ciganos e não ciganos.

As famílias, na sua grande maioria, encontram-se sedentarizadas. No entanto, em determinadas localidades algumas praticam o semi-sedentarismo, deslocando-se para províncias limítrofes ou Espanha, normalmente para trabalhar na agricultura quando não conseguem, localmente, meios de subsistência.

Lurdes Nicolau verificou ainda que em Trás-os-Montes residem dois grupos de ciganos que se auto diferenciam entre os \"chabotos\" e os \"gitanos\" (feirantes) o que, na sua opinião, permite concluir que os ciganos de Portugal não são todos homogéneos.

Estas são as denominações que cada um dos grupos atribui ao outro, sendo que ambos se auto denominam ciganos.

\"Entre eles não existe nenhum tipo de interação. As principais características diferenciadoras estão relacionadas com o poder económico, religião, moral, dialeto ou aparência física\", referiu.

Lurdes Nicolau é professora de ensino básico em Bragança e doutoranda em ciências sociais no Departamento de Economia, Sociologia e Gestão da UTAD.

A tese de doutoramento, que foi orientada pelos professores Xerardo Pereiro e José Gabriel Pereira Bastos, é a primeira a ser defendida no Pólo de Chaves da UTAD.



PARTILHAR:

Efeitos da crise?

Projecto piloto