Jorge Samaritano é um menino de 17 meses. Nasceu com um problema nos pés, que o obriga a dormir com um aparelho especial e a fazer vários tratamentos para poder, um dia, andar normalmente. \"Tem de praticar\", diz a mãe, Bárbara Gaspar, que logo acrescenta, desgostosa \"Não temos condições. O chão é muito torto, tem lixo e andam sempre por aqui bichos. Como cai muitas vezes, prefiro andar sempre com ele ao colo\".
Bárbara tem mais dois filhos, um deles na escola da Araucária. \"Come lá ao almoço e tratam-no bem. Eu já pedi várias vezes à Câmara uma casinha, mas gostava que fosse perto de uma escola\", diz. As outras mães concordam. \"Já que nós não aprendemos nada, ao menos que os nossos filhos aprendam a ler\", acrescenta.
São perto de cem pessoas no total, divididas por mais de uma dezena de famílias. Vivem em condições miseráveis, em barracos de madeira, montados ao longo dos últimos 15 anos em terrenos privados, em Mateus, Vila Real. Quando chove, dormem nos carros, que, esclarecem, \"também são velhos, mas metem menos água\", afirmam.
O vereador Miguel Esteves, por seu lado, garante \"Estamos a efectuar um levantamento de todas as situações, para encontrar uma solução adequada a cada caso\". Diz, também, que \"nalguns casos, aquelas famílias até já estão realojadas, mas teimam em viver aqui\".
Manuel Joaquim, um dos moradores, de 26 anos, tem uma explicação \" Sabe, que nós, ciganos, gostamos de casas e não de apartamentos\". O vizinho, José Manuel, de 22 anos, e já pai de dois filhos, acrescenta: \"O nosso sonho é um grande terreno, uns contentores para viver, com água, luz e casa de banho. Gostamos muito de fazer fogueiras e nos prédios, isso não dá\".
Intervenção começou com a retirada de toda a sucata
Nas últimas semanas, Câmara e PSP têm vindo a incentivar os moradores a retirarem daquela zona toda a sucata e carros velhos.
O vereador Miguel Esteves garante que \"as pessoas foram bastante compreensivas. Eles próprios, negociantes em sucata, arranjaram um solução, e levaram tudo para a zona do Porto. Foram várias toneladas\", acrescenta. António Carvalho, negociante em sucata, tem colaborado, mas confessa que ele e os dois filhos não sabem \"muito bem como fazer daqui para a frente\", pois a sua vida \"sempre foi recolher ferro velho\". Desta vez, o incentivo para colaborar foi, na verdade, uma notificação, já que incorriam numa coima mínima de 1500 euros.