Miguel Torga «era um tipo especial de pessoa. Procurava a qualidade, a perfeição e era capaz de dizer em duas palavras o que outros escreveriam numa página». Avelino Silva sabe do que fala. Durante os últimos 30 anos da vida do escritor foi seu companheiro de trabalho e de viagens, de caçadas e outras partilhas.

\"Tínhamos uma interligação muito grande\", acrescenta o director da Gráfica de Coimbra, que não disfarça uma emoção contida ao olhar a grande fotografia do amigo projectada no auditório municipal de Sabrosa, Vila Real, onde ontem decorreu o encerramento do II Congresso Internacional sobre Miguel Torga, que decorreu em Coimbra.

Avelino e Torga passavam férias juntos em Chaves e viajavam, viajavam muito, partindo até destinos como Angola, Moçambique, Espanha, México. \"Eu ia por razões de trabalho e ele ia comigo\", conta o ex-pároco de S. Martinho de Anta, terra que viu nascer o poeta cujo centenário do nascimento é agora comemorado.

\"Todos os dias nos víamos\" e o significado que esta frase encerra foi a razão que levou Bernardino Henriques, autor de Miguel Torga (quase) na Primeira Pessoa, a escolher o padre para a escrita do prefácio da obra que ontem foi lançada. O conceito? \"A sua obra é a sua biografia.\" \"Para o visualizar é preciso lê-lo com paciência, sem humildade ou preconceito\", diz o autor, que , segundo se lê no prefácio, não fez \"um livro para intelectuais, mas para pessoas comuns, com alguma cultura\".

Torguiana por excelência, Maria da Assunção Morais Monteiro ressalvou o facto de o centenário ter \"acordado algumas consciências para a produção de textos críticos sobre a sua obra\". Segundo a professora catedrática da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - que não resistiu a apanhar pelo caminho um bocado de torga (planta selvagem transmontana à qual o escritor, nascido Adolfo Correia da Rocha «roubou» o nome) -, este congresso importou pela \"releitura e revisitação dos seus livros, ao levá-los a todo o público de todas as áreas, revelando que a obra de Torga está viva\".

Sem nunca se comprometer quando questionada sobre o facto de o trabalho de Torga ter sido retirado dos planos curriculares das escolas, a docente adianta \"ser um autor que devia ser lido por todos. Pela sua forma correcta, pelo termo exacto, pela linguagem incisiva, pela correcção linguística e por todo o universo que cria e que nos transmitiu\".



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