A freguesia de Santa Maria de Émeres, em Valpaços, celebra no domingo o bolo podre, um doce típico cuja receita atravessou gerações e que, segundo a tradição, precisa de gargalhadas para ficar estaladiço e “arreganhado”, foi hoje anunciado.
O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria de Émeres, António Silva, disse à agência Lusa que a Festa do Bolo Podre quer divulgar este doce típico, que é uma especialidade desta localidade do concelho de Valpaços, no distrito de Vila Real.
“Esta festa é uma homenagem a um bolo tradicional da nossa freguesia e queremos dar visibilidade àquilo que temos de bom”, salientou o autarca, referindo que se pretende também atrair visitantes à localidade.
Em Santa Maria de Émeres diz-se que se trata de uma receita antiga e cuja confeção tem segredos que não são revelados, embora se adiante que o processo é acompanhado de rezas e de gargalhadas.
Ou seja, quem o confeciona deve rir às gargalhadas antes de o colocar no forno, para que o bolo fique com aspeto estaladiço e “arreganhado” (entreaberto).
O bolo podre também era conhecido antigamente como dormidos, porque, como não havia fermento, a massa tinha de ficar a levedar durante a noite, junto ao borralho da fogueira.
Foi por causa deste processo e do chá de canela, que lhe davam uma cor escura, que passou a ser conhecido por podre. A receita leva ainda farinha, ovos, azeite e açúcar.
“É um bocadinho lenda, história e é também para encobrir o saber das nossas gentes, para que ele não passe para outras freguesias limítrofes ou outros pontos do país. É, se calhar, algo que nos encobre a verdadeira sabedoria de fazer o bolo podre”, referiu.
Este era também um bolo que era tradicionalmente feito na altura da Páscoa mas que, agora, já é confecionado e vendido o ano inteiro.
Na aldeia, uma família quis “perpetuar” este doce e criou a marca “Bolo podre de Santa Maria de Dulce Alcoforado”, um projeto que junta a mãe e filhos, que, segundo o autarca, têm contribuído para dar visibilidade a este produto com a participação nas feiras do Folar e da Castanha, realizadas anualmente no concelho de Valpaços.
António Silva contou que antigamente, no tempo da Páscoa, as senhoras da freguesia diziam “que, na semana santa, reservavam um dia para fazer os folares e outro dia para os bolos, ou seja, os bolos podres”.
“É muito antiga esta tradição na nossa freguesia”, garantiu.
A Festa do Bolo Podre, que regressa depois de dois anos de suspensão por causa da pandemia de covid-19, conta com a presença de expositores com produtos locais, seis dos quais de venda do doce típico.
O programa da quinta edição deste certame inclui ainda a caminhada das amendoeiras em flor, uma largada de perdizes, um encontro de carros clássicos, um almoço convívio gratuito com pratos regionais, um ‘showcooking’ sobre bolo podre e alheira, também um produto regional, e ainda atuações de grupos de concertinas, gaiteiros e uma banda de música.