Um dia depois da morte de cinco pessoas por inalação de gás num poço em Vilela Seca, Chaves, um dos sobreviventes não consegue perceber como ocorreu o incidente, já que não viu qualquer bomba de extração de água.
\"Está aqui um mistério. Eu desci ao poço, estive lá cerca de 40 minutos a reanimar os homens e não vi nenhuma bomba de extração de água, por isso não entendo de onde vem o gás\", explicou Manuel Pires Martins, de 64 anos e residente na localidade onde se deu a tragédia.
A emissão de gás emitido por uma destas bombas é o motivo avançado pelas autoridades para o acidente, que, além de cinco mortos, fez três feridos, dois deles com gravidade.
Manuel Pires Martins contou ter sido o primeiro a entrar na mina de água. A seguir, entrou o cunhado, um dos dois feridos em estado grave, e um vizinho que acabou por morrer.
De acordo com moradores, o acidente ocorreu quando três pessoas estavam a desentupir a mina de água, particular, porque não havia água para regar uma horta.
Manuel Pires Martins relatou que ouviu gritos de socorro e que, mal se apercebeu do sucedido, entrou no poço e viu um homem a boiar, já sem vida, outro pendurado num dos degraus e um rapaz a reanimar o pai.
\"Agarrei no rapaz que estava entalado nas escadas e fiz-lhe respiração boca a boca, mas não consegui reanimá-lo\", disse. Depois, \"levantei a cabeça, senti-me atordoado e sem visão e então decidi voltar para cima, mas já sem forças\", acrescentou.
O sobrevivente esteve duas horas a receber oxigénio, tendo ainda sido transportado para o Hospital de Chaves. \"Hoje voltaria a fazer tudo da mesma forma\", afirmou.
O poço, com aproximadamente seis metros de profundidade e 12 degraus, estava, este domingo à tarde, à vista dos muitos curiosos que foram ao local, já que a porta da quinta estava aberta e a tampa em cimento destapada.
O presidente da Junta de Freguesia de Vilela Seca, Jaime Martins, referiu que no sábado à noite, antes de a GNR abandonar o local, colocou a tampa do poço, com cerca de 50 centímetros, com a ajuda de uma retroescavadora.
\"Tapámos ainda o acesso por onde entraram os trabalhadores com uma tampa pequena em ferro\", referiu.
No entanto, disse, a responsabilidade de fechar os portões da quinta é do proprietário, por isso o local não está selado, mas sublinhou que isso \"não representa perigo\".
Um dos primeiros bombeiros a prestar ajuda, de 23 anos, teve de ser retirado do poço por se sentir mal, tendo sido levado para o hospital local, mas já teve alta.
Os cinco mortos, dois de 17 anos, um de 30, um de 45 e um de 60 anos, naturais de Chaves e de Boticas, foram levados para a morgue do hospital de Chaves para serem submetidos à autópsia, avançou à Lusa fonte policial.
Um dos dois feridos graves, de 65 anos, encontra-se com prognóstico reservado, enquanto a situação do outro homem, de 23 anos, está a apresentar melhorias, disse fonte oficial do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.