Transformar os resíduos de um lagar de azeite em biomassa para alimentar uma caldeira industrial e diminuir o impacto ambiental dos efluentes; dar a um aglomerado de cortiça a função de deter um derrame de petróleo no mar; e incentivar a luta contra o desperdício de alimentos foram os três projetos galardoados este ano com \"o nobel\" do ambiente e desenvolvimento sustentável português: os Green Project Awards 2011.
Uma equipa da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD); a Amorim Isolamentos e a Eurest, foram os vencedores nas respetivas categorias de Investigação & Desenvolvimento, Produto ou serviço, e Comunicação. Foram ainda atribuídas cinco menções honrosas entre 20 finalistas e 104 candidaturas.
Esta é a quarta edição de um troféu que prestigia e distingue projetos inovadores na área da sustentabilidade ambiental, social e económica. \"São bons exemplos a seguir\" sublinha Susana Fonseca, dirigente da associação ambientalista da Quercos, parceira da Agência Portuguesa do Ambiente neste prémio criado há quatro anos pela GCI.
Os vencedores foram hoje anunciados, numa cerimónia na Culturgest, que contou com a presença da Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, Assunção Cristas.
Resíduos de azeite como combustível
\"O resíduo de uma indústria transforma-se na matéria prima de outra, imitando o sistema ecológico\", é com esta simplicidade que o investigador João Claro defende o projeto desenvolvido na Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD) que foi hoje contemplado com o prémio de I&D do Green Projects Awards.
A ideia começou a fervilhar em 2007 no âmbito da sua tese de doutoramento. O investigador químico que se dedica à investigação na área da ecologia industrial fez uma equação simples: o azeite tem grande importância na região; as águas russas dos lagares são por vezes lançadas no solo ou em meio hídrico sem o tratamento adequado (com uma carga poluente 200 vezes superior ao esgoto urbano); e as cooperativas precisam de um incentivo para investirem no tratamento adequado desses efluentes que sobram da produção do azeite. A partir daqui, a equipa da UTAD concebeu a implementação de uma linha industrial de produção de biomassa com elevado poder calorífero (feita com restos do processamento do lagar e partículas de cortiça) que serve para alimentar caldeiras industriais e junto com a Cooperativa Agrícola de Olivicultores de Murça candidatou-se a financiamento do QREN. Com essa verba estão a construir um protótipo à escala industrial com capacidade para produzir 20 mil toneladas por ano deste tipo de biomassa.
João Claro lembra que \"a produção total de águas russas dos lagares de azeite equivale à poluição dos esgotos de uma cidade como a de Lisboa\". Esta invenção permite minimizar os impactes ambientais deste setor industrial.
Cortiça pode controlar derrames de petróleo
Aliar uma matéria prima nacional (a cortiça), que é o suporte de um ecossistema rico em biodiversidade (o montado) e que faz parte de uma indústria que contribui para 1% do PIB e, ainda para mais, permite diminuir os impactes ambientais provocados pelo derrame de hidrocarbonetos em meio aquático, não levantou muitas dúvidas quanto à eleição CorkSorb para o galardão de Produto e Serviço de 2011.
O trabalho de investigação da Amorim Isolamentos em torno do conceito da cortiça como material absorvente, nomeadamente para contenção de derrames de petróleo em meio aquático, leva já alguns anos. Com o CorkSorb \"o grupo Amorim desenvolveu também uma nova aplicação desta matéria prima de uma indústria em que Portugal é líder\", explica o diretor de marketing da Carlos Jesus. A empresa já está a comercializar a gama CorkSorb desde início de 2010. Além de Portugal, o mercado abrange a Alemanha, Austrália, Bélgica, Espanha, França, Grécia, Holanda, Reino Unido e Suécia onde este produto já foi utilizado \"com êxito\" em derrames poluentes em meios aquáticos.
Lutar contra o desperdício
Incentivar o desperdício de alimentos ao mesmo tempo que se defende que as sobras de bens não perecíveis podem ser doadas a instituições de solidariedade foi o objetivo da campanha da empresa da área alimentar Eurest, agora premiada pelo Green Project Awards. Susana Fonseca , da Quercus, sublinha a importância de uma campanha simples que junta a educação cívica à poupança ambiental e económica\". O projeto foi desenvolvido por Egídio Vasconcelos, com o objetivo de consciencializar os consumidores a reduzir os desperdícios do dia a dia, colocando no tabuleiro de uma cantina/restaurante desta cadeia apenas o necessário a satisfazer o apetite de cada um, de modo a poupar recursos naturais e a quantidade de resíduos produzidos.